I SÉRIE — NÚMERO 95
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A Sr.ª Idália Salvador Serrão (PS): — Sr.ª Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs. Deputados:
«Construir uma sociedade amiga das crianças» — foram palavras proferidas ontem pelo Primeiro-Ministro na
apresentação das intenções com que vai pedir o voto aos portugueses nas próximas eleições legislativas.
Mas um Governo que se afirma preocupado com as crianças não reduz o abono de família, não manda
para a pobreza famílias monoparentais com crianças de todas as idades, não argumenta até à exaustão que a
solução para as famílias está na majoração do subsídio de desemprego para casais em que ambos estão
desempregados, como se essa fosse a única panaceia e assim se resigna.
Sabemos agora que uma das poucas bandeiras do Governo em matéria de proteção e melhoria das
condições de vida das famílias com crianças, tantas vezes proclamada pelos seus responsáveis, que é a
majoração do subsídio de desemprego a casais com filhos, abrangeu apenas 6187 casais desempregados ao
longo de todo o ano de 2013.
Muito pouco, quando sabemos, de acordo com dados do IEFP (Instituto de Emprego e Formação
Profissional), que só em dezembro de 2013 eram mais de 315 000 os casais em que ambos os elementos
estavam desempregados e que a maioria teria certamente filhos a cargo.
Ou seja, este Governo diz que criou uma medida que majora em 10% o subsídio de desemprego de todos
— repito, todos — os casais desempregados com filhos, mas isso não é verdade. A medida apenas é atribuída
àqueles casais em que ambos estão, ao mesmo tempo, a receber subsídio de desemprego. Isto significa uma
cobertura de menos de 10% dos casais desempregados com filhos. Mas falam como se abrangesse todos.
Aplausos do PS.
Dizem-se amigos das crianças, mas desde que são Governo cortaram o abono de família a 95 000
crianças — entre dezembro de 2011, em que já eram Governo, e abril de 2015.
São menos 40 milhões de euros em abono de família. Só em janeiro deste ano, cortaram o abono de
família a 42 000 crianças e jovens, quando comparamos com o mês anterior.
Aliás, este Governo chumbou as propostas do Partido Socialista para o Orçamento do Estado para 2015,
que consistiam na atualização do valor das prestações de abono de família congeladas durante todo o período
em que foram Governo.
O Partido Socialista propunha ainda o aumento da majoração do abono de família atribuído às famílias
monoparentais em 15 pontos percentuais. Também esta proposta foi rejeitada pela maioria.
Este Governo diz-se amigo das famílias e das crianças, mas continua a querer ignorar que, em 2013, cerca
de 19,5% dos portugueses estavam em risco de pobreza. Apenas no ano de 2003 e nos anos anteriores se
tinha registado em Portugal um risco de pobreza mais elevado do que o verificado em 2013. Portugal assiste a
um retrocesso de 10 anos e não se pode resignar!
Aplausos do PS.
As crianças e jovens são o grupo populacional mais afetado pelas medidas, ou pela ausência de medidas,
deste Governo. Só em 2013, cerca de 470 000 crianças e jovens se encontravam em risco de pobreza. Há,
pelo menos, uma década que o risco de pobreza nas crianças não era tão elevado.
E verifica-se ainda que as famílias monoparentais são as que se encontram em maior risco de pobreza;
mais de 38% das crianças que vivem apenas com a mãe ou com o pai encontram-se em risco de pobreza, são
duas em cada cinco crianças portuguesas.
«Só vamos sair desta situação empobrecendo em termos relativos e mesmo em termos absolutos» — dizia
Passos Coelho, a 25 de outubro de 2011. Confirma-se, Sr.as
e Srs. Deputados: empobrecemos em termos
relativos e em termos absolutos.
Devemos recordar que todas as alterações e cortes introduzidos pelo Governo nas prestações sociais de
solidariedade ao longo destes quatro anos foram da exclusiva iniciativa deste Governo.
Aplausos do PS.