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I SÉRIE — NÚMERO 97

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Passo a uma segunda razão: com os bons propósitos do presente, os dirigentes socialistas querem

acomodar a má consciência que lhes trazem as decisões que tomaram enquanto governantes, antes da

entrada da troica, e que molestaram os mais pobres, antes da entrada da troica. As consciências mal

acomodadas carecem desses efeitos catárticos. São consciências mal acomodadas por decisões que vos

trazem memórias pungentes, imagino.

Sim, porque quem esquecerá que foi em 2010, muitos meses antes da catástrofe do resgate, que o

Governo socialista tomou as duas medidas mais nefandas, repito, mais nefandas, de sempre contra os

portugueses mais pobres?

Primeiro, nunca o abono de família, criado há mais de 70 ano pelo Dr. Salazar, tinha tido reduções que

prejudicassem os mais pobres. Nunca! Teve, convosco, em 2010!

O Sr. João Figueiredo (PSD): — Exatamente!

O Sr. Adão Silva (PSD): — Teve, convosco, em 2010!

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

Um corte cego de mais de um quarto do seu valor, excluindo centenas de milhares de famílias, tanto

pobres como remediadas.

Dói-vos a pobreza infantil, Srs. Deputados do Partido Socialista? Expliquem, então, por que cortaram 250

milhões de euros no abono de família em 2010.

Segundo, nunca, desde a sua criação, as pensões sociais, rurais e mínimas do regime geral tinham sido

congeladas, apesar de a inflação ser mais de 3,5%. Fizeram-no os socialistas de José Sócrates, atropelando a

essência dos valores democráticos, reduzindo o poder de compra de gente que já pouco pode comprar.

Querem explicações para o aumento da pobreza e das desigualdades sociais? Os Deputados socialistas

sabem perfeitamente onde encontrá-las. Em matéria de pobreza e de desigualdades sociais, os dirigentes

socialistas dão cartas, falam de cátedra!

Se com esta segunda razão já começámos a perceber o motivo para a insistência do PS nestes temas,

porquanto pela palavra se expia o pecado cometido, sobra ainda uma terceira razão que se justifica pelos

bons propósitos para o futuro, os bons propósitos para o futuro.

Os dirigentes socialistas de hoje, a grande maioria dirigentes de ontem, arrependem-se dos atos passados

que conduziram ao aumento das desigualdades e anunciam um programa radioso onde a pobreza será o

inimigo público número um. Tudo boas intenções, porque levado à prática — oxalá que não! — o programa

eleitoral do PS traria mais pobreza e mais desigualdade aos portugueses.

O Sr. João Figueiredo (PSD): — Bem lembrado!

O Sr. Adão Silva (PSD): — De boas intenções está o inferno cheio e o programa eleitoral socialista

também!

Dois exemplos para concretizar.

Primeiro, estamos todos de acordo que o emprego é o melhor antídoto contra a pobreza. Este PS ergue a

criação de emprego como a causa das causas estando a milímetros de tornar a implantar cartazes com a

promessa da criação de centenas de milhares de empregos, como fez há 10 anos, mas nada diz sobre como

lá vai chegar, como há 10 anos também nada disse.

Mais: os cálculos que apresenta são inconsistentes e fúteis, sobretudo porque dependem da dinâmica das

empresas onde verdadeiramente nasce o emprego.

Ora, as empresas necessitam de confiança e de estabilidade nas leis e nos compromissos dos Governos.

Porém, o PS diz que não lhes facilitaria a vida, tanto pela via do aumento dos impostos, como pela via do

endurecimento da legislação laboral. Assim não há criação de emprego, nem redução do desemprego, nem

crescimento da riqueza para distribuir. Não há dúvida de que com os socialistas a pobreza nasce sempre de

boas intenções.