I SÉRIE — NÚMERO 99
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explica que o seu Governo tenha aplicado o Decreto-Lei n.º 64/2012, dificultando o acesso ao subsídio de
desemprego? Diminuiu os prazos de garantia, é verdade, mas também diminuiu o montante e o tempo de
concessão do subsídio. Isto é oferecer com uma mão e tirar com duas, Sr. Deputado! É que diminuiu os
prazos de garantia, mas também diminuiu o valor e o tempo pelo qual é concedido o subsídio de desemprego.
E, mais, ao fim de seis meses, aplicou um corte de 10%.
Portanto, diga-nos lá, Sr. Deputado, onde é que isto tem como objetivo resolver o problema do
desemprego. Não tem! Isto tem o objetivo estratégico de agravar a exploração de quem trabalha, de baixar
salários e de generalizar a precariedade.
É que, Sr. Deputado, o valor do subsídio de desemprego, em 2012, era de 513 € e o valor médio do
subsídio de desemprego, em 2014, é de 470 €. Qual é o objetivo? É o de enriquecer os trabalhadores,
diminuindo o valor do subsídio de desemprego? Ou é o de forçar a baixa de salários?
É que o Sr. Deputado sabe, o seu Governo sabe e o patronato também sabe que um trabalhador, sem
qualquer apoio social, aceita quaisquer condições, porque tem contas para pagar, tem família para alimentar.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Por isso, isto tem o objetivo estratégico de substituir trabalhadores com direitos
por trabalhadores sem direitos. Tem o objetivo estratégico de desvalorização do trabalho, porque é esse o
programa político do PSD e do CDS.
E por isso é que entendemos que o pacto da troica, que foi subscrito pelo PS, pelo PSD e pelo CDS, e que
as sucessivas alterações ao subsídio de desemprego, feitas pelo PS, pelo PSD e pelo CDS, não tiveram como
objetivo favorecer os trabalhadores, apenas tiveram o objetivo político de agravamento da exploração e de
baixa de salários.
Diga-nos, Sr. Deputado: por que é que este Governo nunca levou a cabo um plano nacional de combate à
precariedade, quando a maior parte dos casos de desemprego tem origem em situações de precariedade?
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Eu respondo: porque nunca teve esse objetivo, porque o compromisso deste
Governo não é com os trabalhadores, é com o patronato e, designadamente, com o grande patronato, com
aquele que usa e abusa dos contratos a prazo, usa e abusa dos recibos verdes.
Disse aqui o Sr. Deputado que este Governo criou o subsídio de desemprego para os trabalhadores
independentes. O que este Governo tinha de fazer era converter falsos recibos verdes em contratos com
direitos, e não garantir o subsídio de desemprego através de descontos no salário destes trabalhadores. O que
o Governo tinha de fazer era garantir que a um falso recibo verde faz corresponder um contrato com direitos.
Mas isso o Governo não quer fazer, porque o compromisso deste Governo não é com o emprego com direitos,
é, sim, com o agravamento da exploração e com a concentração da riqueza.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado José Manuel
Canavarro.
O Sr. José Manuel Canavarro (PSD): — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Rita Rato, muito obrigado pelas
perguntas que me fez.
Há uma coisa que não consigo acompanhar: é o seu atavismo, até porque, sendo ele mais do que
centenário, tenho mesmo muita dificuldade em acompanhá-lo.
Desafio-a a encontrar um país que tenha passado por um programa de ajustamento económico e financeiro
sem, com esse ajustamento, terem acontecido efeitos sociais negativos. Faz parte, Sr.ª Deputada, é assim.
Trata-se de ser realista.
Quanto às perguntas que me faz, devo dizer-lhe o seguinte: no que diz respeito às questões da
precariedade, até neste Parlamento, em sede de comissão, trabalhámos sobre isso. Partindo de uma iniciativa