I SÉRIE — NÚMERO 106
26
A esta perda relativa de controlo das formas, de ruturas e suas consequências, se reporta o Sr. Provedor
na mensagem preambular, ao referir que «Entre os territórios típicos dos poderes do Estado há interstícios,
espaços cada vez mais vastos onde as dificuldades concretas dos cidadãos alcançam a dimensão do real e
para as quais o Estado, enquanto polo agregador da comunidade, tem de encontrar resposta no seu quadro
institucional».
Zonas brancas da lei, do direito, da justiça, de controlo de poder político, a exigirem, decerto, novos
instrumentos normativos, mudanças de comportamentos, assunção de novos compromissos, novas
responsabilidades centradas na defesa intransigente dos direitos do cidadão.
Os documentos em apreço evidenciam à saciedade a devotio — se assim me é permito exprimir — do
Provedor em vários planos, dos quais se evidenciam o respeito pelas instituições e regras democráticase o
combatepela mudança de comportamentosque, por ação ou omissão, geraram injustiça na pessoa daqueles
que são causa da existência do Estado, da nossa ação e razão de ser.
É essa contribuição decisiva para a defesa e incremento dos bens fundamentais da comunidade o reforço
de pertença, da confiança institucional, mas também o diagnóstico diferencial dos espaços onde devem incidir
novas estratégias e medidas de ação política e legislativa que o seu notável trabalho evidencia e incrementa.
De relevar as suas ações no âmbito das atividades públicas e privadas sujeitas à sua ação; o volume de
trabalho desenvolvido; a prontidão e a eficácia da sua prestação; a sua dificuldade e complexidade; a taxa de
resolução concreta dos conflitos — note-se que a sua prontidão cifra-se em 26% dos procedimentos resolvidos
no primeiro mês, 56% nos três primeiros meses e 76% nos seis meses a contar do registo da queixa —; as
mutações nas áreas de incidência das queixas e, também, a valiosa doutrina deixada à comunidade em geral
e aos práticos do direito em especial.
É todo este copiosíssimo volume de trabalho e de apaziguamento social, num tempo marcado pela
sobreposição e difícil compatibilização de ordens legitimadoras, dominado pela urgência do instante, pelos
poderes de facto que anulam a justiça, a equidade, a vivência e a concretização dos direitos fundamentais,
que exuberantemente ressaltam do Relatório.
E daí também, por forma isenta, independente e autónoma, a incessante necessidade de prevenir e reparar
injustiças que, no espaço público, vem sendo cometidas ao Provedor de Justiça, e cumpridas por este no
estalão mais elevado.
O Relatório evidencia, pelo elevado número de casos resolvidos de prevenção e eliminação de
ilegalidades, na composição justa dos interesses em confronto, no grau elevado de comprometimento ético em
que as funções têm sido realizadas, na determinação e ambição na fixação dos objetivos, na celeridade dos
procedimentos usados, a projeção nobilíssima de uma das vertentes que dão corpo ao Estado português e às
suas funções.
Uma nota final: a dimensão homóloga e progressivamente universalista, prestigiosa e prestigiante,
considerada na vertente internacional da atividade desenvolvida no plano dos direitos fundamentais, nas
diversas afigurações e concretos reflexos na vida das pessoas e das instituições.
A notabilíssima atividade evidenciada nos documentos em apreciação e os novos horizontes nacionais e
internacionais que demandam a sua presença e atividade, reclamam do Estado um outro olhar e outra e mais
intensa consideração da figura do Provedor de Justiça: nos meios afetados, no âmbito estatutário, na dotação
do substrato pessoal e material necessário à sua capacitação, na realização dos seus desígnios.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Faça favor de terminar, Sr. Deputado.
O Sr. João Lobo (PSD): — Concluo já, Sr. Presidente.
O Grupo Parlamentar do PSD saúda o Relatório, reconhece, no grau mais elevado, o trabalho realizado, os
bens comuns defendidos e incrementados, e louva, pelos seus méritos, o Sr. Provedor de Justiça e os
servidores do Estado que o acompanham.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Isabel Oneto.