23 DE SETEMBRO DE 2016
7
remuneratória em que o País se encontra e o vencimento mensal do Primeiro-Ministro são o quadro de
referência.
Na nossa ótica, a legislação é clara: fixou critérios sob a forma de recomendação que visavam a adaptação
de cada entidade à sua especificidade e ao setor e, simultaneamente, atendia à realidade económica do País.
Sr.as e Srs. Deputados, numa economia de mercado é absolutamente crítica a existência de reguladores que
sejam capazes de se impor na defesa dos valores da livre e sã concorrência.
Num País moderno não podemos admitir a captura dos reguladores pelos regulados, subvertendo-se assim
as bases da nossa economia e da nossa democracia.
Lamentavelmente, ocorreram abusos. Mas pergunto, Sr.as e Srs. Deputados: as balizas eram
incompreensíveis? O legislador não foi claro naquilo que escreveu?
Sr.as e Srs. Deputados, é evidente que os abusos no aumento de salários para valores estratosféricos foram
um verdadeiro insulto à população portuguesa, num País que tinha acabado de sair de uma bancarrota e que
estava a atravessar dificuldades tremendas com cortes remuneratórios em salários e pensões. Esta situação foi
no mínimo obscena.
Mas, incompreensível e desajustadamente, ao mesmo tempo que se pretendem introduzir limitações aos
reguladores, este Governo das esquerdas alterou as regras de remuneração dos administradores da Caixa Geral
de Depósitos, pondo fim a todos os limites existentes de uma forma escandalosa.
Não sentem que vencimentos por vós determinados — vós, Governo de esquerda — são desadequados,
injustos e excessivos?
Sr. Deputados do Partido Socialista, não se trata de uma questão de legalidade, trata-se de uma questão de
ética e moral. Não se sentem envergonhados?!
Protestos do Deputado do PS Luís Moreira Testa.
Pergunto ainda: o que justifica que os administradores da Caixa Geral de Depósitos aufiram quatro ou cinco
vezes mais do que o Primeiro-Ministro?!
Em política, as coincidências são raras e geralmente as coisas são o que parecem.
Infelizmente, para Portugal e para os portugueses, o que parece é que este Governo das esquerdas pretende
o enfraquecimento daqueles que têm por missão regular os mercados e ao mesmo tempo fortalecer os
operadores.
Se é isto que é pretendido, assumam-no perante os portugueses!
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Bruno Dias.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Vou apenas ler uma parte da intervenção
que o PCP fez há três anos, quando a lei que está em vigor foi aprovada na Assembleia: «O que o articulado
desta proposta de lei permite, tal como está escrito, é que um administrador de uma entidade destas pode
ganhar o dobro do que ganha o Presidente da República, com mais 40% em despesas de representação, e,
depois de cessar funções, ficar em casa sem fazer nada durante dois anos e ganhar tanto como o Presidente
da República. Enquanto tudo isto acontece, aos trabalhadores destas entidades é negado o vínculo ao Estado
com a imposição do contrato individual de trabalho».
O Sr. João Oliveira (PCP): — Apoiado, outra vez!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Srs. Deputados, o PCP disse isto no Plenário. O PSD e o CDS-PP fizeram
orelhas moucas. Não foi por falta de aviso que aprovaram a lei que está em vigor. Não venham agora fingir-se
de escandalizados e surpreendidos com a lei que os senhores aprovaram há três anos nesta Casa.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Muito bem!