8 DE OUTUBRO DE 2016
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se, pelo contrário, temos políticas públicas que assumem que os direitos das pessoas com deficiência são
direitos de cidadania que devem promover a autonomia, a independência, a emancipação e a autodeterminação
das pessoas com deficiência. Isso implica políticas de rendimentos, implica respostas sociais, implica acesso à
educação, à saúde e ao emprego.
Sr. Ministro, queria focar-me sobre esta última matéria, a do acesso ao emprego, pois sabemos que o acesso
ao emprego é uma condição dessa autonomia.
O Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), que é um instituto público, tem muitas debilidades.
Por exemplo, não tem um atendimento digno desse nome para as pessoas que são surdas. Os centros de
formação profissional, muitos deles protocolados com o IEFP, não têm condições de acessibilidade.
Há também uma debilidade que se prende com as próprias ofertas de emprego. Comentando o que disse a
Sr.ª Deputada do PSD, isso não é apenas no setor social. Temos de distribuir o emprego que existe na
Administração Pública e no setor privado também pelas pessoas com deficiência, e é por isso que foi criado em
Portugal um sistema de quotas.
Sr. Ministro, temos despachos para esse sistema de quotas que têm 10 anos, 12 anos, 15 anos e, nalguns
casos, não estão regulamentados. Temos despachos, leis e bons princípios sobre o sistema de quotas na área
do emprego para pessoas com deficiência, cuja violação o Estado aceita de forma mais ou menos passiva. Nas
administrações central e local, existe uma obrigação de 5% de concursos que mencionem explicitamente, a
partir dos três lugares, um lugar para uma pessoa portadora de deficiência, mas sabemos que muitas vezes
nesses concursos isso não acontece, ou eles são repartidos, para não terem essa obrigação.
Por isso, Sr. Ministro, é preciso saber o que vai acontecer neste domínio.
Nas empresas privadas, existe uma obrigação de quotas até 2% de pessoas com deficiência, mas, ao
consultar o site do INR, pergunta-se: as empresas estão a tal obrigadas? A resposta é: sim. Pergunta-se, depois:
e qual é a obrigatoriedade? E no site diz-se que essa obrigatoriedade dependerá da regulamentação. Srs.
Deputados, regulamentação que não existe!
Nesta área, até temos bons princípios na lei, mas, Sr. Ministro, a pergunta é simples: quando teremos a
garantia de que esses princípios se transformam em boas práticas?
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para voltar a formular perguntas, tem a palavra a Sr.ª Deputada Diana
Ferreira, do PCP.
A Sr.ª Diana Ferreira (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, Sr.ª Secretária de Estado da Inclusão das
Pessoas com Deficiência, Sr. Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Sr. Ministro do Trabalho,
Solidariedade e Segurança Social, gostaria também de colocar ao Sr. Ministro questões relacionadas com os
projetos ou os programas-piloto da vida independente, designadamente gostaria de ter mais informação sobre
o seu financiamento ou os valores que possam estar envolvidos no financiamento a estes mesmos projetos, o
universo de pessoas com deficiência que serão abrangidas nestes programas-piloto e também qual a sua
extensão a nível territorial, ou, se já estiver previsto, quais os locais de implementação destes projetos.
Queria também levantar a questão que já colocámos ao Bloco de Esquerda, sobre a perspetiva da
continuidade e do futuro destes programas-piloto, quando deixarem de o ser.
Além destas questões relacionadas com a vida independente, importa também ao PCP reiterar as
preocupações que temos relativamente às questões das acessibilidades. Sabemos que hoje há milhares de
pessoas com deficiência que frequentemente não conseguem mover-se dentro das suas próprias cidades nem
aceder a edifícios públicos. Aliás, não há muito tempo, e aqui bem perto, houve uma ação dinamizada pelas
organizações das pessoas com deficiência que demonstrou exatamente as dificuldades de mobilidade na cidade
de Lisboa, as barreiras que existem e que importa eliminar.
O PCP apresentou na Assembleia da República uma iniciativa legislativa no sentido de se fazer um
levantamento da realidade da situação das acessibilidades ao nível nacional, bem como de serem tomadas
medidas para o cumprimento das adaptações previstas no Decreto-Lei n.º 163/2016, e importava saber da
disponibilidade do Governo para estas propostas e a sua planificação a possíveis soluções.