25 DE JANEIRO DE 2017
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Como o tempo não deixará de provar, este não é um murro na mesa, mas será, decerto, um colossal tiro no
pé.
Aplausos do PS, de pé.
O Sr. Presidente: — Sr. Ministro, a Mesa registou a inscrição, para pedir esclarecimentos, de Srs. Deputados
do BE, do PSD, de Os Verdes e do CDS-PP.
Como pretende responder, Sr. Ministro?
O Sr. Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social — Dois a dois, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente: — Sendo assim, tem a palavra, para pedir esclarecimentos, a Sr.ª Deputada Isabel Pires.
A Sr.ª IsabelPires (BE): — Sr. Presidente, Sr. Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, é
necessário desmistificar algumas questões no debate, nomeadamente sabermos quem beneficia da redução da
TSU.
Tem sido dito — e ainda hoje o disseram — que esta medida irá beneficiar as pequenas e médias empresas.
Ora, sabemos que não é bem assim, porque, analisando o tecido empresarial português e o tipo de emprego
existente no nosso País, verificamos que quem mais paga baixos salários são os grandes grupos.
Por exemplo, os callcenters e as grandes superfícies comerciais são duas áreas onde os lucros das grandes
empresas têm crescido todos os anos, mas quem trabalha recebe dos salários mais baixos do País e tem
vínculos laborais precários.
No setor da limpeza — este é outro exemplo — existem, hoje, cerca de 35 000 trabalhadoras e trabalhadores
que ganham o salário mínimo nacional e estão em grandes empresas.
Ora, falamos de um universo de centenas de milhares de trabalhadores e trabalhadoras para quem esta
medida está, factualmente, a beneficiar grandes empresas, mas, acima de tudo, está a premiar aquelas que
praticam salários baixos e trabalho precário.
Quanto ao futuro, e com a trajetória de crescimento que tem tido o salário mínimo, manter a contrapartida de
desconto na TSU é incentivar, ainda mais, empresas a pagar o salário mínimo para serem contempladas com
esse desconto.
Quanto a isso, Sr. Ministro, não devem existir ilusões.
Mais: também é um benefício para as empresas que promovem a precariedade. As empresas de trabalho
temporário, por exemplo, são das que mais pagam o salário mínimo em Portugal.
Portanto, esta redução da TSU seria um incentivo a essas empresas e às suas práticas recorrentes.
Não acha o Sr. Ministro que, num País em que o salário mínimo ainda é baixo, dar compensações às
entidades empregadoras para continuarem a praticar esses salários baixos é contraproducente com o objetivo
que existe de combate à precariedade e crescimento económico?
Refiro-me agora a uma questão que já foi falada e que para nós é muito importante: as ajudas efetivas às
empresas.
Bem sabemos das dificuldades que as empresas portuguesas, acima de tudo as de pequena e média
dimensão, têm tido ao nível da falta de estímulos para o crescimento económico.
No entanto, é falso dizer-se que o problema está do lado dos salários e, em particular, do salário mínimo
nacional.
Os salários representam menos de 20% dos custos de produção em Portugal e, além disso, o salário mínimo
português é dos mais baixos da Europa ocidental.
Se compararmos, por exemplo, os custos que as empresas têm com a energia, as comunicações e as
telecomunicações, vemos que estes elementos têm um peso de 40% nas suas contas, o que contradiz os menos
de 20% no que toca salário. Aqui está uma matéria onde poderíamos ter políticas para desenvolver e fazer
crescer a nossa economia.
É sobre esta matéria que estamos disponíveis para debater. Não queremos promover uma economia de
baixos salários, queremos construir uma economia que valorize os salários, distribua a riqueza e crie progresso.