I SÉRIE — NÚMERO 52
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A Sr.ª Ana Rita Bessa (CDS-PP): — Por exemplo, abrange administradores não só executivos como também
executivos, o que pode colocar sérios problemas de justiça interpares e até mesmo de seleção de candidatos;
não exclui as empresas cotadas na categoria de PME (pequenas e médias empresas), o que pode significar
uma imposição desproporcionada; impõe o pagamento de uma sanção pecuniária compulsória, elevada e
progressiva.
Por tudo isto, e porque existe um acordo assinado e em vigor com as empresas cotadas, esta proposta de
lei suscita-nos reservas.
Quanto ao projeto de lei do Bloco de Esquerda, se é verdade que se cinge ao perímetro público, também é
verdade que aplica, de forma linear, um critério de paridade, acrescentando uma alínea para esse fim a cada
umas das oito leis e decretos-leis que pretende alterar, revelando um total desconhecimento do funcionamento
dos órgãos cuja composição pretende tornar paritária. No CDS tememos seriamente pelos efeitos que esta
aplicação simplista possa vir a causar.
Por fim, talvez a pergunta mais importante nesta matéria: o que é que verdadeiramente impede as mulheres
de chegar aos lugares de decisão? Não só estereótipos tradicionais e uma cultura empresarial dominada pelo
masculino, que têm de ser, sem dúvida, combatidos,…
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Muito bem!
A Sr.ª Ana Rita Bessa (CDS-PP): — … mas também as condições de trabalho e a dificuldade na conciliação
da vida familiar e profissional. Muitas vezes, impõe-se escolher entre a carreira e os filhos.
Certamente que o caminho que desejamos para todas as mulheres, passa por criar um ambiente favorável
a este trade-off, através de medidas sociais e laborais, de que são exemplo o alargamento do horário das
creches, os benefícios em sede de IRC, a dispensa para assistência aos filhos ou a regulamentação do
teletrabalho.
Infelizmente, estas medidas, como tantas outras, foram aqui chumbadas…
O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Bem lembrado! Bem lembrado!
A Sr.ª Ana Rita Bessa (CDS-PP): — … quando o CDS as apresentou como parte do pacote de promoção
da natalidade — infelizmente, sobretudo para as mesmas mulheres que os senhores agora, tão diligentemente,
se propõem ajudar.
Aplausos do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Elza Pais.
A Sr.ª Elza Pais (PS): — Sr.ª Presidente, Sr. Ministro, Srs. Secretários de Estado, Sr.as e Srs. Deputados:
Começo por saudar o Governo e o Sr. Ministro pela apresentação desta proposta de lei, que vai introduzir um
passo significativo na promoção da igualdade. Diria mesmo que estamos a viver um momento histórico, porque
também estamos a lutar contra o desperdício das qualificações das mulheres.
Portugal tem dado passos significativos nesta matéria, nomeadamente com a aprovação da lei da paridade,
em 2006, o que fez com que esta Casa tenha hoje, em termos de Deputados, 33% de mulheres, 40 anos após
Abril. Dizia Maria de Lourdes Pintasilgo: a democracia ou é paritária ou não é democracia, e nós queremos
seguir este princípio.
Por isso, Sr. Ministro, muitos parabéns pela apresentação desta proposta. Esta proposta, que há muito é
desejada, e que vai combater as discriminações de género nas lideranças das empresas, chega finalmente, mas
chega tarde demais. Ora, sabemos hoje, por evidência científica, que as mulheres são mais qualificadas do que
os homens e é injusto que não tenham as mesmas oportunidades.
O que vai fazer esta proposta? Vai corrigir essas situações de desigualdade, vai derrubar os tetos de vidro
que têm impedido mulheres qualificadas de chegar ao topo das lideranças, pese embora o esforço que fazem
para lá chegar, e vai acompanhar as boas práticas europeias nesta matéria, seguidas, por exemplo, pela
Alemanha, França e Itália.