25 DE MARÇO DE 2017
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Ainda que Jeroen Dijsselbloem pertença à família socialista europeia, ninguém que exerça cargos desta
importância nas estruturas europeias, seja qual for a sua proveniência partidária, pode fazer declarações deste
tipo sem se sujeitar a uma condenação política veemente.
A Assembleia da República, reunida em sessão plenária, repudia as declarações proferidas pelo atual
Presidente do Eurogrupo e considera-as incompatíveis com a permanência de Jeroen Dijsselbloem no cargo
que ocupa no seio do Eurogrupo.
O Sr. Presidente: — Em relação ao voto n.º 257/XIII (2.ª) — De protesto e repúdio pelas palavras insultuosas
do Presidente do Eurogrupo e a nova ameaça de sanções a Portugal por parte do Banco Central Europeu (PCP),
o PS solicita a votação do ponto 4 e, depois, dos restantes pontos.
Vamos, pois, votar o ponto 4.
Submetido à votação, foi rejeitado, com votos contra do PSD, do PS e do CDS-PP, votos a favor do BE, do
PCP e de Os Verdes e a abstenção do PAN.
Vamos votar os restantes pontos do voto n.º 257/XIII (2.ª).
Submetidos à votação, foram aprovados, com votos a favor do PS, do BE, do PCP, de Os Verdes e do PAN
e votos contra do PSD e do CDS-PP:
O voto é do seguinte teor:
Durante vários anos, o povo e o País foram sujeitos a uma brutal política de intensificação da concentração
e centralização de riqueza, de agravamento da exploração, de empobrecimento e de submissão a imposições
alheias às suas necessidades e interesses, nomeadamente no quadro do euro e da União Europeia, visando o
saque e a concentração de recursos dos trabalhadores e do País nas operações de financiamento do capital
financeiro.
A realidade, no entanto, veio a confirmar que não só não foram alcançados os resultados anunciados como
objetivos dessas medidas, como também, em resultado dessas opções, se agravaram injustiças e
desigualdades e se afundou económica e socialmente o País.
A expressão popular de rejeição dessas políticas e de exigência da sua reversão tem encontrado tradução
nas medidas de reposição de direitos e rendimentos alcançadas no quadro político resultante das eleições de 4
de outubro de 2015.
Ao longo de 2016, Portugal foi fustigado por diversificadas pressões, incluindo a ameaça de sanções a aplicar
pela União Europeia, no âmbito de um procedimento por défice excessivo, o que se traduziu numa inaceitável
ingerência nas opções do povo português e na confirmação de uma postura da União Europeia de procurar
dificultar, ou mesmo impedir, a concretização da reposição de direitos e rendimentos dos portugueses.
Afastado que foi o pretexto do «défice excessivo», na medida em que Portugal cumpriu, e até superou, as
exigências de correção do défice feitas pela União Europeia, apesar dos constrangimentos que esse
cumprimento implicou para a economia nacional e das severas limitações que impôs à necessária reposição de
direitos e ao melhoramento das condições de vida que os portugueses exigem e têm direito, eis que o povo
português é de novo confrontado com insultos e ameaças inaceitáveis vindas dos mais altos responsáveis da
União Europeia.
Ao mesmo tempo que o Presidente do Eurogrupo se permite acusar Portugal de gastar dinheiro em «álcool
e mulheres», o Banco Central Europeu permite-se ameaçar Portugal com um novo processo de sanções agora
com o pretexto dos «desequilíbrios macroeconómicos excessivos».
Assim, a Assembleia da República:
1 — Expressa o seu protesto e repúdio pelas afirmações insultuosas do Presidente do Eurogrupo
relativamente a Portugal e reclama o seu afastamento desse cargo;
2 — Repudia as pressões que, sob a forma de ameaça de sanções, visam o condicionamento do debate
político e das decisões que só ao povo português e aos órgãos de soberania nacional cabe tomar;