I SÉRIE — NÚMERO 69
10
A Europa, 60 anos depois da sua fundação, é, e continua a ser, um espaço de paz, um espaço de
prosperidade, e deve ser um espaço de coesão.
Pela primeira vez, temos um Estado a sair da União, o que certamente não é bom. Mas tal deve levar todos
os verdadeiros europeístas, os que têm esse espírito, a unirem-se, até para corrigir as inúmeras falhas que
continuamos a ver no processo de construção europeia e, à cabeça, a falha de falta de solidariedade que hoje
existe entre os Estados e as instituições da União Europeia. Entendo que é exatamente aí que o Partido
Socialista tem um problema.
Sr.ª Deputada, ouvi-a defender o espaço da União Europeia e o espaço da zona euro. Sucede que, em
Portugal, esta solução de Governo assenta em quatro partidos, dos quais três — com nuances, de formas um
bocadinho diferentes — convergem num ponto: Portugal devia sair da zona euro.
O Sr. Presidente: — Sr. Deputado, já ultrapassou o seu tempo.
O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Ora, isso, como é óbvio, coloca um problema de confiança e de
estabilidade a Portugal no espaço europeu.
O Sr. Presidente: — Peço-lhe para terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Sr.ª Deputada, gostava muito de a ouvir sobre o facto de o PCP, o
Bloco de Esquerda e Os Verdes serem a favor da saída de Portugal da zona euro.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra a Sr.ª Deputada Edite Estrela.
A Sr.ª Edite Estrela (PS): — Sr. Presidente, Sr. Deputado António Filipe, muito obrigada pela sua pergunta.
Sr. Deputado, obviamente que nem tudo está bem na Europa, obviamente que nem tudo correu bem no
processo de construção europeia. Eu própria referi algumas dessas fragilidades, dessas debilidades, inclusive
referi as assimetrias e as desigualdades que se foram gerando. Aliás, temos apresentado propostas, a nível
europeu, para que haja correção desses desequilíbrios, dessas desigualdades.
Sou uma europeísta convicta mas, obviamente, não reconheço que esteja tudo bem. Não está tudo bem,
desde logo porque assistimos à emergência de um populismo, da xenofobia, do racismo. Onde deveria haver
solidariedade há egoísmos nacionais, onde deveria haver a participação dos cidadãos, às vezes, há a
consagração de alguns diretórios. Somos contra tudo isso e tudo faremos para que este estado de coisas seja
alterado. Propusemos que se acabasse com os offshore, propusemos que houvesse uma taxa sobre as
transações financeiras, propusemos que fossem criados eurobonds. Portanto, Sr. Deputado, é este o caminho
que continuaremos a trilhar, em defesa de uma Europa, da Europa dos cidadãos.
Sr. Deputado Mota Soares, mal fora que o senhor estivesse de acordo com uma parte da minha intervenção.
É que não é responsabilidade europeia que, nos últimos quatro anos e qualquer coisa da vossa governação, o
PIB (produto interno bruto) português tivesse recuado a níveis de 2000, o emprego a níveis de 1996,…
O Sr. Hélder Amaral (CDS-PP): — Então, essa responsabilidade é do Governo anterior?!
A Sr.ª Edite Estrela (PS): — … que a generalidade dos portugueses tivesse sido esmagada pela carga fiscal
e pela redução salarial,…
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Também tem um nome: Sócrates!
A Sr.ª Edite Estrela (PS): — … que tivesse havido um terço das crianças portuguesas em risco de pobreza,
que os jovens licenciados — e muitos outros jovens — tivessem de abandonar o País para terem uma melhor
oportunidade… É evidente que são verdades que não lhe agradam. Naturalmente que não pode concordar com
essa parte da minha intervenção e por isso invoca argumentos que não sei de onde é que surgiram.