I SÉRIE — NÚMERO 72
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O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Sr. Deputado, tem dois pedidos de esclarecimento. Como
pretende responder?
O Sr. Eurico Brilhante Dias (PS): — Vou responder em conjunto, Sr. Presidente.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Paulino
Ascenção.
O Sr. Paulino Ascenção (BE): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Eurico Brilhante Dias, sobre o Novo Banco
já falámos. O Bloco de Esquerda já disse o que tinha a dizer, hoje, nesta Casa.
Vivemos no meio da crise financeira, que afeta em particular a banca, por toda a Europa, mas há um
subsistema deste sistema financeiro que tem passado pela crise com invejável saúde financeira e solidez. Falo
da banca social: bancos cooperativos e bancos mutualistas. Em Portugal falamos das caixas económicas, onde
pontifica o Montepio Geral, e do Crédito Agrícola.
Uma primeira questão tem a ver com as restrições que existem na lei à atividade destas instituições,
nomeadamente das cooperativas de crédito, que apenas podem dirigir a sua atividade à agricultura. Pergunto
se faz sentido manter esta restrição e se o Partido Socialista estará disponível para reequacionar este cenário
e abrir a atividade das cooperativas de crédito a todos os setores da economia, como acontece, em regra, na
Europa.
O Governo anterior, nas vésperas de terminar o seu mandato, fez aprovar um decreto-lei que estabeleceu o
novo regime das caixas económicas, que prevê a sua transformação em sociedades anónimas. Aqui surge a
perplexidade: será que os bancos, que eram sociedades anónimas, sobreviveram, ou comportaram-se melhor,
durante a crise? Contribuíram menos para a crise? É esse o raciocínio que justifica esta transformação de uma
caixa económica, que é uma associação, em sociedade anónima? Tal é justificado com a abertura aos mercados
com maior facilidade para obter fundos e outros recursos nos mercados. Mas os bancos, que estavam expostos
aos mercados, por acaso sobreviveram melhor, passaram melhor pela crise? Isto faz algum sentido?
Têm surgido imensas notícias, recentemente, sobre a situação do banco Montepio Geral, da Caixa
Económica Montepio Geral,…
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Queira terminar, Sr. Deputado.
O Sr. Paulino Ascenção (BE): — … tem havido queixas — ou recomendações — do Conselho Nacional de
Supervisores Financeiros, sobre a necessidade de alterar o modelo de supervisão.
A própria Deco Proteste — Defesa do Consumidor também acompanha estas preocupações quanto à
suficiência do modelo de supervisão das associações mutualistas, que são as entidades que dominam as caixas
económicas.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Miguel
Tiago.
O Sr. Miguel Tiago (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Eurico Brilhante Dias, esta solução não é a menos
má, e muito menos é boa. Depois de o banco ter sido gerido ao sabor das aventuras e caprichos dos grandes
milionários, que o foram dirigindo ao longo do tempo; depois de ter sido assaltado pelos seus próprios
administradores; depois de ter sido resolvido e de ter custado 4900 milhões de euros aos portugueses; depois
de se perceber que, afinal, esses 4900 milhões de euros eram apenas a primeira prestação, porque o PSD e o
CDS esconderam o real custo desta operação debaixo do tapete, como fizeram, aliás, com bancos inteiros —
como no caso do BANIF; …
Protestos da Deputada do CDS-PP Cecília Meireles.