I SÉRIE —NÚMERO …
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118, sendo 108 delas em Portugal — 101 vítimas de exploração laboral e 3 de exploração sexual. Das 26 vítimas
crianças, só 3 foram confirmadas entre nós.
Sr.ª Ministra, a Operação Pokhara, do SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras), e a Operação Katmandu
não são suficientes para explicar este aumento. Pergunto: qual é a sua explicação para o aumento dos casos
de tráfico de seres humanos, que é muito significativo, e que medidas tenciona o Governo tomar para atacar
este acréscimo de tráfico de seres humanos que ocorreu em 2016?
Por outro lado, parece-lhe crível que sejam três as vítimas de tráfico para exploração sexual? Não lhe parece
estranho que estas sinalizações venham praticamente todas das ONG (organizações não governamentais) e
não venham das forças de segurança, que têm muito escassa expressão em matéria de sinalização de vítimas
de tráfico?
Por fim, Sr.ª Ministra, é muito preocupante a situação do tráfico de crianças e do seu desaparecimento de
instituições de acolhimento. De resto, deve ter lido o recente relatório do GRETA — Grupo de Peritos para a
Ação contra o Tráfico de Seres Humanos — sobre Portugal, que considera esta matéria preocupante e insta o
Estado português a trabalhar sobre ela, considerando a matéria carecida de ação imediata. O que é que o
Governo pretende fazer, Sr.ª Ministra?
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para responder, tem a palavra a Sr. Ministra da Administração
Interna.
A Sr.ª Ministra da Administração Interna: — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada, concordo consigo que o tráfico
de seres humanos não se confunde com a imigração ilegal. São dois crimes cujo bem jurídico protegido é
completamente diferente: num, é o território e, no outro, é a dignidade da pessoa humana. Portanto, nisso
estamos de acordo.
Há, de facto, um aumento das sinalizações porque também houve, nesta matéria, um aumento muito
expressivo das ações de fiscalização que permitiram detetar muito mais vítimas de tráfico de seres humanos.
Tanto a GNR como a PSP, em ações isoladas ou conjuntas com outras autoridades como o SEF, reforçaram
imenso a sua ação de fiscalização e por isso se verifica um aumento muito significativo de pessoas sinalizadas,
esbatendo, no fundo, aquilo que seria a cifra negra, que nunca saberíamos qual era.
A questão dos menores não acompanhados e dos menores vítimas de tráfico é muito preocupante. Temos
tido o fenómeno, sobretudo originário da África subsariana, de alguns menores não acompanhados, com 16 ou
17 anos, que chegam sozinhos ou sozinhas a Portugal, pedem asilo, e, depois, desaparecem do seu local de
acolhimento, nomeadamente, o CPR, o Conselho Português para os Refugiados. Alguns já foram detetados,
nomeadamente muitos em França, que é o seu país de destino preferencial.
Neste momento, já se realizaram várias reuniões no MAI para tentarmos ter um manual de procedimentos
para todas as entidades, não só para as entidades policiais, mas para as autoridades judiciárias e para o
Ministério Público. Tem de haver aqui um forte envolvimento do Ministério Público para monitorizar melhor e,
sobretudo, proteger melhor estes menores não acompanhados.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem, novamente, a palavra a Sr.ª Deputada Teresa Morais.
A Sr.ª Teresa Morais (PSD): — Sr. Presidente, Sr.ª Ministra, também referi essas operações especiais de
deteção que mencionou, mas elas, por si só, não explicam este aumento de casos, é preciso ir mais fundo nesta
análise.
A Sr.ª Ministra referiu há pouco o investimento em salas de atendimento a vítimas de violência doméstica
nas esquadras. Sr.ª Ministra, deixe-me dizer-lhe que era boa altura para começar a fazê-lo, de facto, porque o
número que está referido no RASI é de 63% de esquadras com essas salas de atendimento, e 63% é exatamente
a percentagem que consta do último Relatório Anual de Segurança Interna produzido pelo anterior Governo.
Portanto, não se cresceu absolutamente nada nessa matéria e é altura de o fazer.