I SÉRIE — NÚMERO 81
16
setor, das universidades e da sociedade civil, contruir a base do que devem ser as políticas de habitação, para
não estarem ao abrigo de programas que ora têm verba ora não têm e, quando não têm verba, não há políticas?
A segunda pergunta tem a ver com os bairros em situação de carência habitacional extrema. Temos visto
nas notícias, com muita preocupação, que há ainda 2800 famílias nas Áreas Metropolitanas de Lisboa e do
Porto que não foram contempladas pelo PER (Programa Especial de Realojamento), embora estivessem
recenseadas, temos visto que há famílias que não foram recenseadas porque chegaram depois e que o PER
está sem verba desde 2009.
Sabemos que no orçamento para este ano há uma verba para o PROHABITA (Programa de Financiamento
para Acesso à Habitação), mas é uma verba pequena e curta.
Entretanto, alguns destes bairros juntaram-se e dirigiram uma carta aberta às autoridades portuguesas e à
comunicação social em defesa da dignidade humana do direito à habitação. Algumas pessoas não só não têm
uma habitação condigna como são alvo de despejos sem alternativa ou estão privadas de energia elétrica há
meses, Sr. Primeiro-Ministro. Estive no Bairro da Torre e confirmei que há cinco meses que as pessoas não têm
energia elétrica.
Ora, as Nações Unidas aprovaram, no ano passado e Portugal apoiou, a Nova Agenda Urbana, que diz,
claramente, que não se quer deixar ninguém para trás e que deve ser facilitado a todos igual acesso aos serviços
básicos e a condições de habitação adequadas e acessíveis.
Sabemos que o Governo já está a trabalhar no levantamento das carências habitacionais, seguindo, aliás,
uma resolução, unânime, desta Assembleia da República. Sabemos também que a Secretaria de Estado da
Energia criou um grupo de trabalho, que inclui as autarquias, o IHRU (Instituto da Habitação e da Reabilitação
Urbana), o Secretário de Estado Adjunto e do Ambiente, a EDP Distribuição, a Entidade Reguladora dos
Serviços Energéticos (ERSE) e a Direção-Geral de Energia e Geologia, para encontrar uma resposta urgente
para fazer chegar energia a alguns destes bairros.
Tenho três perguntas simples para lhe colocar, Sr. Primeiro-Ministro.
Está o Governo disponível para, em articulação com a Assembleia da República e as autarquias, dar resposta
efetiva ao direito de todas as comunidades acederem à energia em condições compatíveis com os seus
rendimentos, isto é, mediante uma tarifa social, mesmo que para isso seja preciso mudar a legislação?
Está disponível para mobilizar todos os recursos disponíveis, seja no PROHABITA ou noutras instâncias,
para dar condições de realojamento condignas para as famílias em situação de carência habitacional extrema?
A disponibilização poderá não ser de imediato, mas está disponível para, a médio e curto prazo, na medida do
possível, resolver este problema?
Finalmente, e esta pergunta é, para mim, essencial e o Sr. Primeiro-Ministro sabe que é: está o Governo
disponível para acolher a participação e as iniciativas das organizações de moradores e associações locais,
como a Constituição da República determina, para que sejam eles próprios também a resolver os seus
problemas habitacionais?
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro, António Costa.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Helena Roseta, sabe bem, porque, ao longo dos
últimos anos, temos falado muito sobre o tema, que considero essencial mudarmos o paradigma da política de
habitação.
Houve um paradigma que morreu com a crise, foi um paradigma de uma política de habitação que assentava
no congelamento das rendas, matando o mercado do arrendamento, e no crédito fácil, que contribuiu para o
brutal endividamento das famílias.
Temos de voltar a ter um mercado de arrendamento saudável e acessível a todos. Nós esgotámos,
infelizmente, as políticas públicas de habitação quando, nos anos 90, foi lançado o PER, que implicou um grande
compromisso financeiro por parte das autarquias locais, e, muitas delas, ainda hoje, estão profundamente
endividadas, a suportar os encargos então contraídos.
O município de que a Sr.ª Deputada é presidente da Assembleia Municipal, hoje, já só tem basicamente a
dívida do PER, mas essa dívida ainda é um constrangimento efetivo.