I SÉRIE — NÚMERO 83
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A Sr.ª Clara Marques Mendes (PSD): — Portanto, quanto a consequências negativas, a Sr.ª Deputada podia
ter aproveitado o momento para pedir desculpa aos portugueses pelo estado em que deixaram o País e por
aquilo que fizeram as pessoas passar.
Aplausos do PSD.
Mais, Sr.ª Deputada: pela sua intervenção, não consegui perceber qual é, afinal, a posição do Partido
Socialista, porque, de facto, o Partido Socialista continua a dizer que o momento é extemporâneo, o Partido
Socialista continua a dizer que é a favor do diálogo social, mas, de repente, critica aquilo que está no Código do
Trabalho.
Ó Srs. Deputados, definam-se, sobretudo porque os trabalhadores merecem equilíbrio e estabilidade.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
Protestos do PS.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Tem, agora, a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado
Paulo Sá.
O Sr. Paulo Sá (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: O patronato nunca se conformou com a perda do
poder unilateral de ditar as regras nas relações de trabalho, sempre procurou por todos os meios bloquear a
negociação coletiva.
Não poucas vezes a contratação coletiva fixa salários e consagra direitos em condições francamente mais
favoráveis aos trabalhadores do que está previsto no Código do Trabalho. E é exatamente por isso que a
contratação coletiva tem sido alvo de ataque sistemático por parte das associações patronais e dos sucessivos
governos. Um exemplo paradigmático deste ataque é o da Associação Portuguesa de Seguradores.
À boleia das alterações ao Código do Trabalho, impostas em 2003 por um Governo PSD/CDS, em particular
das normas que admitem a caducidade das convenções e eliminam o princípio do tratamento mais favorável ao
trabalhador, a Associação Portuguesa de Seguradores denunciou a convenção coletiva de trabalho e tentou,
durante anos, fazer publicar o aviso sobre a cessação da sua vigência.
Perante um Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça que lhe negou essa pretensão, a Associação
Portuguesa de Seguradores, em outubro de 2015, decidiu alterar os seus estatutos no sentido de deixar de ter
capacidade para outorgar convenções coletivas de trabalho e, dessa forma, avançar para a denúncia da
contratação coletiva com o Sindicato Nacional dos Profissionais de Seguros e Afins. Ou seja, o patronato da
área dos seguros atuou de má-fé, recorrendo a um lamentável expediente para atacar a contratação coletiva e
os direitos dos trabalhadores,…
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Paulo Sá (PCP): — … tais como a duração dos tempos de trabalho e a organização de horários, o
pagamento de trabalho suplementar, o prémio de antiguidade, os suplementos de ordenado, o pagamento de
despesas de serviço, entre muitos outros.
Esta situação exige uma atuação decisiva por parte do Governo e, em particular, da Autoridade para as
Condições do Trabalho (ACT), pondo cobro a este abuso e garantindo o respeito integral pela contratação
coletiva e pelos direitos dos trabalhadores do setor dos seguros.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado
Pedro Roque.