6 DE MAIO DE 2017
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O Sr. João Oliveira (PCP): — Muito bem!
A Sr.ª Ana Mesquita (PCP): — Vem tentar insinuar que a gestão democrática é anacrónica, que a
democracia é uma coisa do passado, mas enganam-se, Sr.as e Srs. Deputados. A democracia é uma questão
de futuro e, é aqui, precisamente, que o PCP se integra, defendendo, precisamente, o direito de todos, de todos
os corpos da escola, participarem na vida da escola e terem poder de decisão. Este é que é o grande problema
para o PSD, porque o PSD está bem confortável com a opção de ter um diretor da escola que centraliza tudo
nele, não havendo possibilidade de os outros corpos da escola terem uma palavra a dizer quanto ao que está a
acontecer.
O Sr. Emídio Guerreiro (PSD): — Todos participam! Leia a proposta!
A Sr.ª Ana Mesquita (PCP): — Ora, esse não é o caminho que defendemos. O PCP defende que só o poder
de participar e de decidir é que dá sentido às práticas de governo democrático das escolas. Só assim é possível
romper com encenações participativas, com processos e métodos a que falta, efetivamente, substância
democrática. Portanto, reafirmamos que o projeto do PCP vai, de facto, num outro sentido, no de promover a
participação e a decisão, integrar os estudantes nesta decisão, integrar os trabalhadores não docentes, dar viva
voz também aos docentes e, de facto, não tem nada a ver com aquele projeto que o PSD hoje aqui trouxe, que
mais não é do que afinar a gestão não democrática das escolas.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Tem a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada Joana
Mortágua, do Bloco de Esquerda.
A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A democracia e a gestão democrática
das escolas são conceitos tão importantes que foram plasmados na Constituição da República Portuguesa como
um direito e também na Lei de Bases do Sistema Educativo como os preceitos da gestão das escolas.
É lamentável que o PSD se tenha arrependido de ter votado a importância da gestão democrática das
escolas, mas seria trágico se o Partido Socialista se tivesse esquecido que votou também a importância da
gestão democrática das escolas.
Hoje, não podíamos estar mais longe desse conceito que inscrevemos na Constituição da República
Portuguesa e na Lei de Bases do Sistema Educativo. A realidade é uma coisa muito diferente. A realidade é de
mega-agrupamentos, onde o que interessa são lideranças, diretores a quem se pede que, mais do que
pedagogia, saibam, sobretudo, de gestão, como se as escolas fossem empresas, como se os diretores fossem
CEO de uma grande empresa.
Essa escola, que está hoje longe da escola democrática, é governada por um diretor onde se concentram
todos os poderes. Um diretor tem hoje mais poderes efetivos do que aqueles que estão legislados. Um diretor a
quem se presta dependência hierárquica, avaliativa e disciplinar dos docentes e dos funcionários, que controla
e determina todo o trabalho dos docentes e dos funcionários, com poder hierárquico, disciplinar e avaliativo.
Um diretor que é por inerência o presidente do conselho administrativo, que é por inerência o presidente do
conselho pedagógico, cuja composição o diretor controla, para além de determinar os coordenadores de
estabelecimento e de determinar também os coordenadores de departamento, apesar do subterfugio da short
list. Este diretor tem poderes de nomeação dentro da escola como se de confiança política se tratasse, como se
a escola não fosse um sítio que deve ser gerido por critérios pedagógicos e científicos.
Este diretor pode manter-se 16 anos no cargo entre eleições indiretas e reconduções ainda mais indiretas.
Quando o Professor David Rodrigues disse — e, lembro-lhe pela última vez, o Sr. Deputado do PSD aplaudiu-
o de pé, aqui nesta Assembleia — que estas lideranças são napoleónicas (a frase não é minha, poderia ter sido,
mas infelizmente não é) tem razão. Tem razão, porque este modelo de gestão gera e promove lideranças não
democráticas. O problema não é das pessoas, não é dos diretores, que, com certeza, serão muito boas pessoas,
o problema é que o modelo de gestão promove lideranças não democráticas e isso tem de ser um problema
hoje nas escolas.