I SÉRIE — NÚMERO 92
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Pelo discurso do Governo, estes fundos vão ser reestruturados, vão passar para outros setores, o que será
um retrocesso para a nossa economia. Afinal, o que pretendem? Vão deixar de apoiar as micro e as pequenas
empresas? No âmbito do Grupo de Trabalho — Indústria, em sede da Comissão de Economia, temos recebido
diversos representantes dos setores, que nos transmitem que precisam de estabilidade laboral, fiscal e política
para desenvolverem o seu trabalho com maior sucesso. Não querem a constante descontinuidade de políticas
e referem também a falta de estratégia para o País e de compromissos futuros. Não querem mudanças abruptas,
como as que têm acontecido. A falta de estabilidade nestas áreas provoca dificuldade na negociação e
reajustamento dos preços no contexto internacional.
As políticas fiscais e laborais têm de ser estáveis, previsíveis e que giram confiança, o que não tem
acontecido com este Governo. Verificamos, também, que muitas dessas empresas estão sujeitas a uma forte
sazonalidade e, por isso, a criação do banco de horas é um instrumento extremamente importante.
O que pensam o Governo, o PCP e o Bloco de Esquerda sobre esta matéria?
Há necessidade de mais apoio para os centros de formação profissional, para que a criação significativa de
postos de trabalho seja uma evidência. Não precisam de reduções efetivas no seu financiamento, nem de
cativações. O desviar de apoios para o Ministério da Educação nem sempre tem tornado os custos mais
apetecíveis e necessários às empresas e aos jovens.
Assim, pergunto: o que vai fazer o Governo para resolver este problema?
Só temos mais e melhor produção nacional se deixarmos os nossos empresários fazer o seu trabalho sem
perturbações.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís
Ferreira, de Os Verdes.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr. Ministro, tenho de fazer um registo: fiz duas
perguntas e não obtive qualquer resposta. Recordo que uma tem a ver com a eficiência energética…
Vozes do PSD e do CDS-PP: — Oh!…
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Se calhar, ouviram a resposta e eu não ouvi.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Srs. Deputados, efetivamente, é inteiramente verdade o que acabou de
dizer o Sr. Deputado José Luís Ferreira.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Ministro, vou recordar as perguntas, na esperança de ter uma
resposta nesta segunda ronda: uma, tem a ver com a eficiência energética nas empresas e a outra, com as
medidas de apoio às pequenas e médias empresas.
Sr. Ministro, como sabe, a Comissão Europeia está a procurar fazer entrar em vigor uma parte substancial
do Tratado de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento com o Canadá antes de os Estados-membros
poderem pronunciar-se sobre o processo de ratificação, o que, a nosso ver, é absolutamente inadmissível,
sobretudo numa Europa que se diz tão democrática.
Mas agora, pouco importa falar da transparência do processo negocial — que, aliás, foi feito nas costas dos
europeus — ou da sua natureza pouco democrática, que fica reforçada com esta pretensão da Comissão
Europeia de fazer entrar em vigor o CETA (Comprehensive Economic and Trade Agreement) antes de os
Estados-membros poderem pronunciar-se.
O que para este debate interessa é dizer que o que o CETA pretende é dar resposta às exigências das
multinacionais. E como é que isso se faz? Faz-se, como se prevê no Tratado, removendo barreiras regulatórias
— seja ao nível das exigências ambientais, seja ao nível das exigências em termos de segurança alimentar —,
faz-se com uma legislação laboral mais penalizante para quem trabalha, faz-se abrindo os serviços públicos ao
setor privado, faz-se com mais liberalização económica e menos proteção social e faz-se, ainda, permitindo às
multinacionais que possam processar os Estados se as suas políticas comprometerem a expectativa do lucro