I SÉRIE — NÚMERO 92
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são as pessoas e as pequenas empresas que nele trabalham, tem de ser fortemente apoiado com meios
materiais e humanos.
Por mais potencialidades que o mar tenha, nas palavras de vários governos e governantes, certo é que o
número de pescadores e a nossa capacidade de pesca tem vindo a diminuir. Muitas são as causas, e uma será
a baixa remuneração dos trabalhadores face ao risco que esta atividade oferece, provocando a emigração
forçada de muitos. Mas há outras, e bem mais decisivas. A mais importante é o incentivo à diminuição da nossa
capacidade produtiva por via do abate de embarcações, promovida pela política comum das pescas da União
Europeia.
No relatório de acompanhamento da participação de Portugal na União Europeia, elaborado pelo Governo e
enviado à Assembleia da República, um documento que hoje mesmo foi apreciado na 7.ª Comissão, não há
uma única referência à necessária renovação da frota pesqueira — repito, uma única!
Esta política diminui a nossa capacidade produtiva, beneficiando a forte concorrência estrangeira dos
grandes armadores e empresas de pescado, ditando, assim, um caminho descendente da atividade como um
todo e uma maior dependência de importações.
Aquilo que no discurso se denomina por economia do mar, e que engloba as mais variadas atividades, desde
a pesca — claro! —, aos transportes, à alimentação, aos recursos minerais, etc., promete-nos riquezas com
vista ao desenvolvimento. O problema é que parece não passar de um potencial.
Atualmente, por exemplo, armadores e pescadores continuam à espera de um RIM (Regulamento de
Inscrição Marítima) atualizado e adaptado às circunstâncias modernas do setor. Quando estará pronto o RIM,
Sr.ª Ministra?
Continuam a faltar recursos na DGRM (Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços
Marítimos). Não será altura de empregar pessoas e dotar os serviços com os recursos adequados às
necessidades do setor, que, obviamente, não dispõe desses recursos?
E a construção naval? O que é que se tem feito em relação ao setor? Seguirá este Governo o recente
exemplo dos Estaleiros de Viana do Castelo?
E o problema dos assoreamentos que parece não ter solução permanente à vista? As paragens forçadas
poderiam ser evitadas com dragagens frequentes executadas na época certa, nomeadamente no verão. Onde
está esse investimento? Um serviço permanente de dragagens, ou outro de efeito igual, é uma solução há muito
requerida pelo sector em vez de concursos pontuais e ocasionais.
Sr. Deputado Cristóvão Norte, o senhor anda a falar de dragagens desde 2015 e o que parece ser omissa é
a memória do Sr. Deputado.
Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: A soberania alimentar, em que as pescas
são um fator crítico, tem uma dimensão económica evidente, em especial pelos empregos que assegura, mas
também é essencial no plano da defesa.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Esgotou o seu tempo, Sr. Deputado.
O Sr. Carlos Matias (BE): — Termino já, Sr. Presidente.
Num quadro de profunda instabilidade internacional e de ameaças que espreitam em cada dia, o Estado tem
de garantir um nível de produção de alimentos, por forma a que, em caso algum, eles faltem à mesa dos
portugueses e das portuguesas. Não se trata de isolacionismo ou de rejeição pura e simples do comércio
internacional, trata-se «apenas», com todas as aspas que lhe queiram colocar, de responsabilidade perante os
cidadãos e as cidadãs, numa dimensão absolutamente essencial à nossa sobrevivência.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Machado.
O Sr. Jorge Machado (PCP): — Sr. Presidente, Sr.ª Ministra do Mar, os portos de pesca e a atividade
portuária em sentido comercial assumem uma particular importância estratégica para o desenvolvimento do País
e o aumento da nossa produção nacional.