30 DE JUNHO DE 2017
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aplica um seguro agravado, mas o Governo continua a não reconhecer esse alto risco e a não reconhecer essa
profissão de desgaste rápido; quando temos bombeiros que são enviados para combater os incêndios sem
terem acesso a informação detalhada e atualizada sobre o terreno que vão encontrar; quanto temos bombeiros
há 15 anos com o mesmo equipamento de proteção individual e sabemos que este equipamento tem um prazo
de validade de 5 anos; quando temos um País que só se lembra do valor e da entrega abnegada destes homens
e destas mulheres quando o inimaginável acontece, sabemos que algo está muito mal.
Estes homens e estas mulheres, que se superam no que é a sua resistência à dor, ao sofrimento, ao cansaço,
à fome, à sede, que colocam a proteção e a segurança dos outros como a fasquia mais alta, que, apesar de
todas as dificuldades que enfrentam e da forma como têm sido tratados por sucessivos governos, nunca dizem
«não» nem nunca hesitam em prestar socorro a quem dele precisa, infelizmente, várias vezes, com
consequências desastrosas para eles próprios, estes homens e estas mulheres cumprem muito, muito mais do
que o seu dever e a sua obrigação.
O Governo também tem de cumprir com a sua.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José
Miguel Medeiros.
O Sr. José Miguel Medeiros (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Membros do Governo Sr.as e Srs.
Deputados: Para quem, como eu, nasceu, cresceu e vive naquela região e ali desenvolveu a sua atividade de
professor e geógrafo durante mais de 20 anos, esta é, provavelmente, a intervenção parlamentar mais difícil que
me coube fazer.
Ainda por cima, tal como muitos outros, eu estive lá e vi com os meus próprios olhos o horror e a tragédia ao
vivo e pude observar o sentimento de impotência das populações e dos operacionais para combater um fogo
cuja dimensão ultrapassou tudo aquilo a que estamos habituados e a que eu próprio, apesar dos muitos anos
de contato com a realidade dos incêndios, como Deputado, como Governador Civil e como Secretário de Estado,
nunca tinha assistido.
Por tudo isto, a primeira palavra é de pesar pelas vítimas da tragédia e de solidariedade para com os seus
familiares e para com todas as populações daqueles concelhos que, em poucas horas, viram as suas terras
transformar-se em verdadeiros infernos de fogo e destruição.
A segunda palavra é de agradecimento e sentida homenagem a todos os que, de forma corajosa, abnegada
e incansável, estiveram no terreno desde a primeira hora.
Bem hajam por tudo o que fizeram em defesa daquele território e das suas gentes.
Aplausos do PS.
No dia 17 de junho, Portugal viveu um dos dias mais trágicos da sua história recente: 64 pessoas perderam
a vida e mais de 250 ficaram feridas, na sequência dos violentos incêndios ocorridos nos concelhos de Pedrógão
Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos.
Acrescem a este balanço danos patrimoniais de vulto: mais de 25 000 ha de floresta ardidos, centenas de
habitações atingidas pelo fogo, cerca de 40 empresas total ou parcialmente destruídas e 300 postos de trabalho
diretamente ameaçados, para além de centenas de equipamentos, de máquinas agrícolas e florestais destruídas
e de 650 km de rede viária danificados.
A dimensão do que aconteceu e o respeito pelas vítimas não admitem, Sr.as e Srs. Deputados, abordagens
oportunistas ou aproveitamentos de natureza política, que seriam totalmente ilegítimos e inaceitáveis.
Aplausos do PS.
Analisando apenas os factos conhecidos e confirmados e as análises técnicas já disponíveis, podemos
afirmar que as consequências catastróficas deste incêndio são a evidência de que o que se passou em Pedrógão