I SÉRIE — NÚMERO 103
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Grande e, particularmente, na estrada nacional 236-1, não foi uma ocorrência comum em Portugal, mesmo
tendo em conta a nossa posição geográfica, quase mediterrânica, e o perfil climático e meteorológico do País.
Em condições normais, este teria sido mais um dos muitos incêndios que deflagram todos os anos naquela
zona, sobretudo neste período do ano, habitualmente o mais crítico.
Se assim tivesse sido, estaríamos hoje a contabilizar áreas ardidas de floresta e algum património que
pudesse ter ardido. Afinal, situação que acontece quase todos os anos, fruto de um ordenamento florestal antigo
e desajustado da atual realidade demográfica, caracterizada por uma população muito reduzida e de idades
extremamente avançadas.
Infelizmente, desta vez, a realidade não foi a do costume. De facto, aquilo que parecia ser um foco de incêndio
normal para a época e uma rotina para os bombeiros e para as populações da região, habituadas a defender-
se do fogo, transformou-se, fruto de condições meteorológicas extremas, com temperaturas acima de 40º C e
ventos na ordem dos 100 km/hora, num verdadeiro inferno de chamas, que alastrou a uma velocidade
impressionante, abrindo diversas frentes simultâneas e com projeções que atingiram centenas e até milhares
de metros, surpreendendo tudo e todos.
Fruto destas circunstâncias, absolutamente excecionais, confirmadas pelo Instituto Português do Mar e da
Atmosfera e por todos os operacionais no local, muitas infraestruturas de comunicações e energia colapsaram
com o fogo e um número significativo de pessoas, que viviam mais isoladas, ficou rapidamente cercada pelas
chamas.
Estes desenvolvimentos dificultaram sobremaneira a organização do teatro de operações. Os múltiplos focos
que foram sucessivamente deflagrando, em consequência das projeções do próprio fogo, a enorme quantidade
da massa florestal combustível existente e com baixo teor de humidade e a instabilidade atmosférica elevaram
ao extremo as condições meteorológicas locais as quais, por sua vez, favoreceram uma rápida e violenta
propagação das chamas.
Se juntarmos a tudo isto uma estrutura de povoamento humano bastante dispersa, uma floresta em grande
parte abandonada e cuja organização vem dos anos 40 do século XX, estavam reunidos os elementos
necessários para gerar esta «tempestade perfeita», com as consequências conhecidas.
Sem prejuízo das necessárias investigações e do apuramento integral dos factos associados a esta
ocorrência, as condições de exceção verificadas, dificilmente permitiriam uma resposta mais eficaz das
estruturas da proteção civil e do dispositivo de combate aos incêndios.
Estamos a falar de uma ocorrência que, em menos de três horas, gerou um incêndio que atingiu três
concelhos e quatro frentes ativas, as quais chegaram a mobilizar, no seu momento mais alto, mais de 1400
operacionais, 400 viaturas e 16 meios aéreos.
Atendendo a que, nesse dia, lavravam no País cerca de 150 incêndios, só por ignorância ou má-fé se pode
falar em falha de mobilização de meios.
Tratou-se, sem margem para dúvidas, de um dos mais complexos cenários de fogo que alguma vez ocorreu
em Portugal. Um verdadeiro caso de estudo!
Saudamos, por isso, o consenso obtido nesta Assembleia, que entendeu avançar com a criação de uma
comissão técnica independente, constituída por especialistas de reconhecido mérito, sem prejuízo das
investigações determinadas pelo Governo e pelo Ministério Público e dos relatórios técnicos dos diferentes
serviços.
Deixemos, pois, o apuramento dos factos seguir o seu caminho e aguardemos, com a serenidade devida,
pelas investigações e relatórios em curso para, na altura certa, nos debruçarmos de forma rigorosa sobre as
respetivas conclusões.
Nessa altura, estaremos, com toda a certeza, em condições de perceber o que se passou e daí retirar as
devidas ilações para o futuro. Até lá, concentremo-nos naquilo que podemos e devemos fazer para reduzir o
sofrimento e garantir a assistência necessária às populações atingidas, pois esse é, sem dúvida, o melhor apoio
que lhes podemos e devemos dar nesta altura.
Com efeito, este é o tempo de agir em apoio daqueles territórios e das suas populações.
E se é certo que no campo do socorro, da assistência e do apoio social foi possível verificar, desde o início,
uma forte mobilização e intervenção dos diferentes agentes, desde o INEM (Instituto Nacional de Emergência
Médica) à segurança social, passando pelos profissionais de saúde da região e pelos muitos voluntários que
rapidamente se mobilizaram, não é menos certo que o grau de devastação é de tal ordem que o apoio pós-