I SÉRIE — NÚMERO 107
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Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Ana Mesquita.
A Sr.ª Ana Mesquita (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A proposta de lei que aqui discutimos
esclarece alguns aspetos que nos parecem relativamente correntes e consensuais, prorrogando o Estatuto dos
Benefícios Fiscais na parte relativa ao mecenato científico até ao final de 2017.
Então, vamos aproveitar esta oportunidade e, já que falamos de mecenato científico, vamos falar de outras
questões que nos preocupam, nomeadamente de políticas públicas para a ciência num quadro em que as
instituições privadas sem fins lucrativos têm no nosso sistema nacional de ciência e tecnologia um peso de 10
vezes superior ao da média da União Europeia e em que, praticamente, metade do financiamento em
percentagem do PIB nacional para atividades de investigação e desenvolvimento advém do setor privado.
Para nós, este facto merece reflexão, tendo em conta o desenho de um quadro em que os grandes grupos
económicos tentam declarar tudo e mais alguma coisa como investimento na investigação e desenvolvimento
para tentarem ir buscar benefícios fiscais.
Na base da esmagadora maioria dos problemas da ciência está uma opção política de financiar e investir ou
não, fazendo com que o Estado seja ou não o protagonista do investimento público no sistema científico e
tecnológico nacional.
A verdade é que o sistema científico e tecnológico nacional tem ainda muitas carências em termos humanos,
técnicos, materiais e financeiros e também em termos políticos, porque é preciso — e é isso que também o
determina — definir uma política científica que atenda e sirva verdadeiramente as necessidades e as
especificidades do nosso País, em que sejam definidas prioridades estratégicas, e uma dessas prioridades
estratégicas alcançou aqui, hoje, algum detalhe no debate anterior, que têm a ver, precisamente, com o combate
à precariedade no trabalho científico, em particular, e à defesa da dignificação do trabalho na ciência.
É preciso suprimir, acabar de vez, com o trabalho precário que abunda na ciência, acabar com o carrocel de
precariedade que afeta os bolseiros de investigação científica e, finalmente, instituir o estabelecimento de
contratos do acesso à carreira, de progressão numa carreira estável e de valorização da carreira de investigação
científica.
Há que relembrar neste contexto que a subordinação ou a dependência do sistema científico e tecnológico
nacional a critérios de financiamento competitivo e a financiamentos europeus fragiliza também a resposta
soberana, o desenvolvimento autónomo e a capacidade crítica de resolução dos problemas com que o nosso
País se confronta.
Continuamos abaixo da média da União Europeia em termos de investimento público na ciência e isto é algo
que é preciso alterar com urgência.
O PCP defende que uma nova política para o País obriga à existência de uma nova política para o sistema
científico e tecnológico nacional que opte pelo investimento e pelo reforço públicos e continuaremos a intervir e
a apresentar propostas nesse sentido.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Paulo Oliveira.
O Sr. Jorge Paulo Oliveira (PSD): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: Diz
recorrentemente o Sr. Primeiro-Ministro que o seu Governo é pela estabilidade fiscal e que a instabilidade fiscal
é coisa do passado. Nada mais falso!
Este é, indiscutivelmente, o Governo da instabilidade fiscal sobre as famílias e o Governo da instabilidade
fiscal sobre a economia. Este é o Governo que muda os impostos no outono, por altura da apresentação da
proposta de Orçamento do Estado, e é também o Governo que muda os impostos no inverno, na primavera e
no verão.
O imposto sobre o gasóleo e a gasolina, o IMI solar e das vistas, o imposto único de circulação para pessoas
com deficiência são apenas alguns exemplos de impostos mudados fora do outono, isto é, mudados fora da
altura da discussão do Orçamento do Estado.