8 DE JULHO DE 2017
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Chegados ao verão de 2017 cá está o Governo com mais uma nova proposta de lei que incide, novamente,
sobre impostos e sobre benefícios fiscais.
O Governo poderá dizer muita coisa, mas há uma coisa que o Governo não conseguirá rebater: é que na
génese desta proposta está, indiscutivelmente, o seu próprio desleixo.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. Jorge Paulo Oliveira (PSD): — Na verdade, só um Governo desleixado é que vem quase um ano
depois corrigir as confusões que ele próprio criou ou para as quais contribuiu em torno do IUC para as pessoas
com deficiência, quando aprovou o Decreto-Lei n.º 41/2016.
Só um Governo desleixado é que se vê a meio do ano obrigado a clarificar que as pessoas singulares
residentes em países com tratamento fiscal mais favorável não estão sujeitas à taxa agravada do IMI, depois de
andar todos estes meses a dizer e a garantir que esta dissensão interpretativa não teria lugar.
Só um Governo desleixado se esqueceria de prorrogar benefícios fiscais decorrentes do mecenato científico
que, simplesmente, caducaram no passado dia 31 de dezembro de 2016.
Só esperamos, Sr. Secretário de Estado, que o Governo não se esqueça também de entregar ao Parlamento,
como é sua obrigação, a avaliação qualitativa e quantitativa de um conjunto de benefícios fiscais constantes do
respetivo Estatuto dos Benefícios Fiscais.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Um Governo que muda os impostos a todo o tempo, um Governo que
se esquece do termo da vigência de benefícios fiscais, um Governo que legisla de forma confusa é um Governo
que, fiscalmente, gera desconfiança e este é o Governo que temos à frente de Portugal.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Almeida.
O Sr. João Pinho de Almeida (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Secretários de Estado, Sr.as e Srs.
Deputados: Esta proposta de lei pretende colmatar ou corrigir lapsos em três regimes fiscais diferentes — no
IUC, no IMI e no Estatuto dos Benefícios Fiscais.
Não são lapsos idênticos e relevam para um problema que todos reconhecemos, sendo que, efetivamente,
convém, de uma vez por todas — e o Parlamento é a sede principal para o fazer, sendo que o Governo tem
também uma responsabilidade muito grande na legislação fiscal –, estarmos mais próximos do objetivo que nos
une, que é o da estabilidade da legislação fiscal e da literacia fiscal dos cidadãos, que depende, e muito, da não
complexidade dos regimes que aqui aprovamos. É que se os regimes não fossem tão complexos,
provavelmente, estes lapsos não aconteceriam, porque seria mais fácil detetar que, efetivamente, aquilo que se
legislou não foi exatamente aquilo que se pretendia legislar.
Quando os regimes fiscais — e, infelizmente, é o que acontece — estão cheios de especificidades, de
exceções e de regimes especiais, obviamente que é mais provável que aconteça este tipo de situações.
Relativamente ao IUC não é sequer a primeira vez que estamos a tentar corrigir o que foi legislado no
Orçamento do Estado. Aliás, fizemos uma primeira tentativa e, infelizmente, não foi suficiente para uma
interpretação que nos parece a mais razoável e que, agora, fica definitivamente esclarecida, que é a de que o
regime que foi alterado aplica-se, única e exclusivamente, para a frente e não se aplica retroativamente, para
situações já anteriormente criadas.
Portanto, estamos de acordo com isso e, aliás, sempre o dissemos nos debates anteriores.
Relativamente ao IMI é uma questão de opção política e aí o Governo faz a sua, e no Estatuto dos Benefícios
Fiscais é um lapso por omissão, porque, efetivamente, caducando o regime do Estatuto dos Benefícios Fiscais
para o mecenato científico em dezembro do ano passado, nunca houve em nenhum debate ninguém que
defendesse que ele não vigorasse para a frente, portanto trata-se de prolongar esse regime.
Ora, estando o CDS de acordo com estas alterações, aquilo que, obviamente, aqui cumpre deixar dito é o
compromisso do CDS em procurarmos — e dissemo-lo no debate do Orçamento do Estado e di-lo-emos, com
certeza, no próximo debate do Orçamento do Estado — evitar este tipo de alterações sucessivas dos regimes
jurídicos dos impostos, para que estas situações sejam cada vez menos e os cidadãos deixem de sofrer com