8 DE JULHO DE 2017
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Consideramos que é um erro insistir em medidas que não promovem o objetivo da convergência para o qual
se deveriam tomar outras medidas, como seja um programa de reestruturação de dívidas soberanas e incentivos
ao investimento público.
Em terceiro lugar, o processo do Brexit marcou, decididamente, o final do ano de 2016 e irá marcar os
próximos anos. O clima de incerteza paira sobre os cidadãos europeus a residir no Reino Unido, e vice-versa,
sendo que este clima é preocupante, especialmente quando olhamos para a comunidade portuguesa.
Na verdade, está tudo em aberto, está tudo em cima da mesa, o cenário de incerteza mantém-se e as
convulsões políticas internas a cada um dos lados, tanto do lado do Reino Unido como do lado europeu, não
têm ajudado à clarificação do que vai acontecer aos cidadãos e isso manter-se-á como um ponto negativo.
Em quarto lugar, gostaríamos de colocar as questões relativas à política de acordos comerciais da União
Europeia, que sabemos que é um ponto essencial e no qual Portugal teve uma participação bastante grande no
ano de 2016 e, agora, em 2017. Entrámos, nos últimos anos, numa fase de novos acordos comerciais e de
investimento que têm uma abrangência nunca antes vista. Falamos do TTIP (Acordo de Parceria Transatlântica
de Comércio e Investimento), com os Estados Unidos da América, o CETA (Acordo Integral de Economia e
Comércio), com o Canadá, agora o JEFTA (Acordo União Europeia-Japão), com o Japão, mas também do
acordo com o Mercosul. Na verdade, estamos a falar de acordos que vão afetar todas as áreas da vida dos
portugueses e que trazem a reboque a ideia falsa de que é possível regular a globalização. Sendo a globalização
um processo inserido no sistema capitalista, a ideia de regulação é contrária à sua própria natureza e, portanto,
é uma ideia falsa e enganadora. Achamos, portanto, que estas matérias não estão a ter a devida atenção e terão
consequências muito negativas para os povos europeus.
Por último, e apesar de estar fora do âmbito temporal do Relatório, deixamos uma nota de congratulação
sobre a recente decisão de incluir uma adenda proposta pelo Bloco de Esquerda e pelo PCP no Parlamento
Europeu de aumento da verba do Fundo de Solidariedade para auxiliar nas reparações dos incêndios de
Pedrógão Grande. Este é um exemplo de um tipo de mecanismo de solidariedade relevante e que deveria
nortear mais a ação da União Europeia.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Peço-lhe que conclua, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Isabel Pires (BE): — Faz-se hoje um balanço de uma União Europeia que atravessa uma crise de
valores e de políticas, que não tem sabido responder aos seus cidadãos e que tem privilegiado o
aprofundamento de mecanismos de opressão aos Estados-membros, especialmente por via orçamental. Por
isso, continuamos a bater-nos por uma política de verdadeira união dos povos europeus, em prol do crescimento
e do respeito pelos direitos e liberdades dos mesmos.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Galamba, do
PS.
O Sr. João Galamba (PS): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: já todos
sentimos falta das jornadas de luta do PCP, do Bloco de Esquerda e de Os Verdes pela transposição de diretivas.
O Sr. Miguel Morgado (PSD): — Isso é suposto ter graça?!
O Sr. João Galamba (PS): — Sr.ª Secretária de Estado, o maior contributo de Portugal para o projeto de
construção europeia em 2016 foi, sem dúvida, não ter confundido credibilidade com conformismo, ter ousado
escolher e implementar um programa que muitos diziam ser impossível ou contrário aos objetivos do projeto
europeu. A credibilidade foi conquistada exatamente porque o Governo português e os portugueses
conseguiram demonstrar que é possível compatibilizar os compromissos orçamentais com uma política de
aumento de rendimento, de reforço da coesão social e de recuperação dos serviços públicos. A Europa não tem
de ser sinónimo de austeridade nem de cortes nas condições de vida dos portugueses.