I SÉRIE — NÚMERO 6
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O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — Lendo a lei!
O Sr. José Cesário (PSD): — A CRESAP serve para nomear com isenção, premiando a competência, mas
para demitir ou, se quisermos, para provocar uma demissão já não está em causa a capacidade, bastando uma
simples decisão política.
A isto, Srs. Deputados, chama-se saneamento político!
Aplausos do PSD e de Deputados do CDS-PP.
O mesmo saneamento político a que foram sujeitos, nestes dois anos, centenas de dirigentes da
Administração Pública, todos nomeados com o parecer da CRESAP.
Porém, Srs. Deputados, vale a pena concentrarmo-nos neste caso concreto: que razões determinaram a
saída de Luísa Maia Gonçalves? De acordo com o que foi divulgado, tal ter-se-á devido ao incumprimento de
objetivos, tendo nomeadamente em conta a nova lei de estrangeiros, exatamente a tal lei que tinha merecido
um parecer técnico negativo do SEF.
A verdade é que o SEF se limitou a cumprir a sua missão, alertando a tutela para o facto de as alterações
propostas pelo PCP e pelo Bloco de Esquerda implicarem graves riscos em matéria de segurança interna,
impossibilitando a deportação de cidadãos manifestamente perigosos, além de provocar o aumento da
desregulação do processo migratório.
É assim que tal ousadia se paga agora com este afastamento. A sacrossanta aliança do PS com a extrema-
esquerda assim o determinou. Agora, toda a Administração Pública sabe que quem discordar — repito,
simplesmente «discordar» — dos senhores do PCP e do Bloco de Esquerda corre o risco de ser afastado.
Aplausos do PSD e de Deputados do CDS-PP.
Assim se consagra o delito de opinião na Administração Pública portuguesa. Ficam a saber isso os dirigentes
do SEF, mas também os professores, os médicos, os enfermeiros, os funcionários dos registos, os polícias,
enfim, todos os funcionários públicos.
Hoje, os portugueses sabem que a santa aliança PS/Bloco de Esquerda/PCP, além de se banquetear à mesa
do Orçamento do Estado, satisfazendo as suas clientelas preferidas, não hesita em sanear quem quer que se
oponha às suas intenções, por mais incompreensíveis que sejam. Será isto o regresso aos sinistros anos de
1975 e 1976, Srs. Deputados?
Protestos do PS, do BE e do PCP.
Estará a vingar, na ação governativa, a linha totalitária e intolerante que Sá Carneiro e Mário Soares
combateram durante o PREC?
Srs. Deputados socialistas e esquerdistas, registem bem que este tipo de intenções será combatido pelo
PSD com todas as nossas forças, lado a lado com os portugueses, e jamais nos vergaremos a estratégias
totalitárias e demagógicas que só podem comprometer a democracia.
Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, em qualquer caso, queremos que fique bem claro que para nós, social-
democratas, só há uma forma de encarar o fenómeno migratório: com solidariedade humanista, mas com a
regulação necessária para evitar desequilíbrios sociais e humanos.
Vale a pena recordar as palavras de Gomes Canotilho e Vital Moreira, para quem os não-nacionais não
gozam de um direito absoluto de permanecer no território nacional, sendo evidente que o criminoso ocasional
mais grave frequentemente se aproveita dos mecanismos legais para se proteger contra a expulsão.
Protestos do Deputado do PS Tiago Barbosa Ribeiro.
É assim que recusamos qualquer disposição que possa pôr em causa a segurança dos cidadãos, mantendo
administrativamente em Portugal cidadãos estrangeiros condenados por crimes socialmente graves.