28 DE NOVEMBRO DE 2017
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O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Vocês tiveram cá um «resultadão»!
A Sr.ª Ana Rita Bessa (CDS-PP): — … e todos bradarão em coro o único e estafado argumento que os une:
antes isto que a direita no poder!
Contra o passado, este Orçamento vai gerir um presente de anúncios, de popularidade encomendada a
agências e de ilusões àqueles que tinham direito a poder acreditar num futuro melhor.
Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: Com este Orçamento o que é central (o
País e os portugueses) tornou-se colateral e o que deveria ser instrumental (o Governo e os partidos que o
viabilizam) tornou-se o objetivo determinante e o fim último.
Esta inversão de prioridades, que desperdiça um contexto macroeconómico favorável e compromete um
futuro melhor, leva o CDS a votar, em consciência, contra este Orçamento do Estado.
Vozes do CDS-PP: — Muito bem!
A Sr.ª Ana Rita Bessa (CDS-PP): — Mas este voto contra não encerra a ação do CDS. Desengane-se quem
acha que a arrogância e a falta de seriedade política do Governo e dos partidos que o viabilizam nos desanima
ou nos cala; pelo contrário, só nos impele a continuar a construir uma alternativa.
Esta é a nossa coerência, este é o nosso trabalho e este é o nosso compromisso.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Mariana Mortágua.
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: A atual
Legislatura está a ser marcada por muitas diferenças e dificuldades, algumas dramáticas, mas a atual solução
política encontrou a sua coerência na definição de um caminho comum, muito claro desde o início, e numa
prática de compromisso: o que foi dito e o que foi escrito é para ser feito. Apenas isso bastou para fazer uma
enorme diferença com governações anteriores, tanto do Partido Socialista como da direita, e essa diferença é o
respeito pela palavra dada.
O Governo tem cometido erros — qualquer governo os comete — e esses erros têm sido assinalados
consistentemente neste Parlamento pelo Bloco, em palavra e também em voto. Mas o erro de hoje é inédito nos
dois anos deste acordo e queremos registá-lo, porque este erro marca o fecho deste processo orçamental. O
Governo não honrou a palavra dada!
Vozes do PSD e do CDS-PP: — Oh!…
A Sr.ª Mariana Mortágua (BE): — No âmbito do processo de especialidade, o Bloco de Esquerda propôs a
criação de uma contribuição solidária para a eliminação do défice tarifário.
A medida acordada com o Governo é fácil de explicar: em Portugal pagamos a fatura mais cara da Europa e
pagamos às elétricas os maiores subsídios pela produção eólica e solar.
É claro que as renováveis devem ser apoiadas — e são-no, em toda a parte —, mas em Portugal ocorre um
autêntico milagre elétrico: com apenas 12% da sua produção no nosso País, a EDP-Renováveis realiza em
Portugal 27% dos seus lucros. Isto é, 12% da produção dão 27% dos lucros!
Se tomarmos os preços da EDP-Renováveis como referência para todo o setor, verificamos que os
consumidores portugueses pagam mais 400 milhões de euros por ano pela produção renovável do que pagariam
se os preços fossem os que a EDP-Renováveis pratica na média dos países onde produz, a começar pela
vizinha Espanha.
Esta medida, acordada com todos os membros do Governo com quem tratámos, era uma medida corretiva,
ainda muito parcial e moderada, que só, em parte, reduziria estes lucros excessivos, era uma medida que não
atingiria qualquer novo investimento, pois as novas licenças já não beneficiam de tarifas subsidiadas.