28 DE NOVEMBRO DE 2017
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O Sr. Pedro Passos Coelho (PSD): — … com os cortes cegos na despesa do Estado e no investimento
público, e emulando essa nova austeridade no Orçamento seguinte de 2017.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Ainda vai dizer que o senhor é que tinha razão!
O Sr. Pedro Passos Coelho (PSD): — Está a ver como o Sr. Deputado já concluiu!
Risos do PCP.
Neste segundo ano orçamental, os factos apenas trouxeram uma novidade: o crescimento da economia
acelerou bastante face às previsões (1,5% do PIB estimados contra, eventualmente, 2,7% até final deste ano)
e a receita fiscal mostrou-se bastante mais generosa do que o previsto. Suficientemente generosa, pelo menos,
para dispensar a tomada de medidas extraordinárias. O plano B, no entanto, prosseguiu, e ainda prossegue, no
essencial, como no ano anterior, já que a redução do défice nominal conjugada com a estratégia da reposição
acelerada de rendimentos apenas é alcançável mantendo elevados cortes de despesa, garantidos por
cativações e por um miserável investimento público.
Se algum apoiante mais escrupuloso da geringonça considerar estes resultados pouco compatíveis com as
intenções propaladas, o Governo ainda ensaiará, como ensaiou, a desculpa esfarrapada e inconsistente de que
os factos observados mais não são do que efeitos indesejados atribuíveis ao anterior Governo. Por exemplo,
nem o Portugal 2020 nem o investimento público seriam tão miseráveis se não tivesse sido a falta de
planeamento deixada pelo Governo anterior, segundo esta versão.
Protestos de Deputados do PS.
O Governo, coitado, bem gostaria de ter gastado mais nestas áreas, mas não foi mesmo possível. Nem
ocorre aos arquitetos destas historietas que, se tivesse sido esse o caso, as metas do défice não poderiam ter
sido atingidas…
O Sr. Hugo Lopes Soares (PSD): — Claro!
O Sr. Pedro Passos Coelho (PSD): — … no quadro da recuperação de rendimentos e lá cairia por terra
toda a conversa sobre a superioridade moral da alternativa da solução deste Governo.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. Pedro Passos Coelho (PSD): — Um facto curioso destes dois anos é também o de que o
comportamento da economia só pode ter surpreendido o Governo, já que o crescimento se ficou a dever,
sobretudo, ao bom comportamento das exportações e ao impacto que o turismo tem ocasionado sobre o
emprego e a atividade. Quer dizer, a economia cresceu, apesar da estratégia traçada pelo Governo, e o
crescimento foi liderado pelas áreas que não constituíam prioridade estratégica para o Governo e relativamente
às quais o Governo menos se revelou determinante. E até a conversa feita sobre a necessidade de mudar de
paradigma em matéria de modelo económico, apostando num crescimento assente em inovação e valor
acrescentado, afastando um outro baseado em baixos salários, mostrou que tudo não passava realmente disso
mesmo: conversa!
Apesar da decisão de aumentar o salário mínimo acima do crescimento da produtividade, nunca a economia
esteve tão assente num modelo de emprego sustentado por baixos salários e, mais recentemente, com maior
precariedade.
Vozes do PSD: — Muito bem!
O Sr. Pedro Passos Coelho (PSD): — E aqui vai outra intenção propalada que, na realidade, esbarrou de
frente.