9 DE DEZEMBRO DE 2017
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Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem agora a palavra, para uma intervenção, a Sr.ª Deputada
Ana Virgínia Pereira.
A Sr.ª Ana Virgínia Pereira (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados: Começaria por
saudar o Partido Ecologista «Os Verdes» pela pertinência, relevância e atualidade da matéria que nos traz hoje
a debate e que se prende com a gestão comum dos nossos recursos hídricos, designadamente as bacias
hidrográficas que partilhamos com Espanha e que fazem parte da designada Convenção de Albufeira sobre a
Cooperação para a Proteção e o Aproveitamento Sustentável das Águas das Bacias Hidrográficas Luso-
Espanholas.
A Convenção de Albufeira sempre mereceu, desde o início, dúvidas e preocupações do PCP, por um lado
pela posição de fragilidade e de subalternização do País face a Espanha e, por outro, por não assegurar os
interesses e as soberanias nacionais, subjugando-os aos interesses de concessionários da produção elétrica.
Ao longo do tempo, as condições estabelecidas na Convenção de Albufeira e até nos convénios anteriores
deram razão às inquietações do PCP. O País abdicou do direito de utilizar todos os afluentes de Espanha e de
uma parte dos escoamentos nacionais das bacias hidrográficas do Douro e do Tejo, mesmo quando a água era
mais escassa e havia uma muito maior necessidade.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
A Sr.ª Ana Virgínia Pereira (PCP): — O PCP considera que não faz sentido a obrigação de Portugal lançar
no mar certas quantidades de água nos estuários do Tejo e do Douro quando o objetivo deste acordo era fazer
a gestão da massa de água que abrange os dois países. Ora, como os estuários se encontram no nosso País
cabe a Portugal tomar, soberanamente, essa decisão.
Acrescenta-se ainda o facto de esta obrigação se estender a afluências próprias e caudais de afluentes
nacionais, como o Tâmega, o Côa e o Zêzere, o que evidencia a abdicação de Portugal dos seus direitos e da
sua soberania sobre a água.
A concessão de várias barragens, retirando-as da gestão do Estado e colocando-as na mão dos grandes
grupos económicos, que visam o lucro e os seus interesses e não o interesse das populações, demonstra
também à evidência a prevalência de interesses mercantilistas e a ausência de capacidade por parte de Portugal
de planear e de gerir as suas bacias, mesmo que isso implique colocar em causa outros usos, designadamente
o ecológico.
O rio Tejo, onde não são acautelados os caudais ecológicos mínimos, está em risco, verificando-se em vários
troços o assoreamento, a par de uma enorme redução de caudal, a poluição e a perda de biodiversidade.
O uso da água para outros fins, como a agricultura, a indústria e mesmo o abastecimento público está, no
nosso País, dependente das necessidades e interesses da produção elétrica. A qualidade da água que entra
em Portugal não é monitorizada pelo Estado português, o que não garante a salvaguarda da biodiversidade e
dos ecossistemas do País e não defende os interesses nacionais.
O PCP considera que cabe ao Governo português, no quadro das relações internacionais e diplomáticas, e
no respeito pela soberania dos Estados, assegurar e salvaguardar os interesses e a soberania nacionais.
Assim, o PCP propõe que o Governo português encete diligências visando o início de um processo de revisão
da Convenção de Albufeira para assegurar os interesses nacionais onde se defenda a fixação de caudais
instantâneos mínimos e máximos na fronteira e se retire a obrigatoriedade de se lançar água para o mar nos
estuários, entre outros aspetos.
Defendemos, ainda, que não se deve comprometer a capacidade de regularização do aproveitamento do
Alqueva e que se introduzam instrumentos de medição na fronteira que assegurem o controlo e a monitorização
dos parâmetros da qualidade da água.
Aplausos do PCP.