9 DE DEZEMBRO DE 2017
25
(BE), 1161/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo que tome as diligências para a revisão da Convenção de
Albufeira (PCP) e 1165/XIII (3.ª) — Recomenda ao Governo a revisão dos trâmites da Convenção de Albufeira
(PAN).
Para dar início ao debate, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados: A matéria dos
recursos hídricos não é estranha às relações entre Portugal e Espanha tendo em conta a partilha de rios que
obrigou, ao longo dos tempos, à consensualização de instrumentos bilaterais que permitissem uma gestão não
conflituosa desses recursos. Assim, em 1998, foi assinada aquela que ficou conhecida por Convenção de
Albufeira, tendo a mesma entrado em vigor no ano de 2000.
Entretanto, não foram pontuais as situações em que a intenção de levar por diante projetos espanhóis com
impactos nos rios internacionais se aliou a resistências na avaliação dos impactos transfronteiriços ou à
prestação de informação relevante devida. Só a título de exemplo, é possível relembrarmos os transvases
espanhóis, o processo de refinaria, com impacto no Guadiana ou, mais recentemente, a exploração de urânio
em Salamanca, com impacto no Douro, ou o projeto para armazém de resíduos nucleares em Almaraz, com
impacto no Tejo.
A gestão dos caudais acordada na Convenção tem sido um dos problemas com que Portugal se tem
confrontado, considerando a necessidade de redefinir critérios de determinação do regime de caudais das águas
das bacias hidrográficas luso-espanholas, tendo sido estabelecido, em 2008, um segundo protocolo adicional à
Convenção de Albufeira, sendo que os caudais estabelecidos não foram achados em função da preservação e
da garantia dos ecossistemas fluviais e do contributo do rio para a sustentabilidade e a resiliência, até no litoral,
mas, sim, em função dos interesses das hidroelétricas.
Passaram a prever-se caudais trimestrais e semanais, mas a verdade é que os caudais definidos nunca
foram os caudais ecológicos e não se ousou optar pela previsão de caudais diários.
Não foram escassas as vezes em que as notícias relataram uma dura realidade, como, por exemplo: «Água
disponível no Guadiana obriga a reduzir consumo», em 2009; «Espanha faz novo transvase do Tejo sem cumprir
mínimos», em 2010; «Espanha reduz caudal do Douro abaixo dos mínimos», em 2012. Isto só a título de
exemplo.
Estas notícias dão conta de incumprimentos recorrentes da Convenção de Albufeira, sempre negados pelos
sucessivos governos portugueses, e, assim sendo, representam uma necessidade urgentíssima de revisão da
Convenção de Albufeira.
É também do conhecimento público que na posição conjunta, assinada entre Os Verdes e do PS, ficou
estabelecida a necessidade de revisão da Convenção de Albufeira de modo a garantir maior sustentabilidade
dos nossos rios internacionais.
Passaram 17 anos sobre a entrada em vigor desta Convenção. Durante a sua vigência é inegável que
Portugal tem tido problemas com a gestão dos seus rios internacionais, sendo, pois, tempo de rever este
convénio.
Sr.as Deputadas e Srs. Deputados: Os Verdes apresentam um projeto de resolução com vista a essa
renegociação com o Governo espanhol, mas estabelecemos alguns conjuntos de itens muitos concretos,
designadamente prazos para que essa revisão seja feita.
Sabemos que estes prazos não assumem, digamos assim, o consenso por parte de todos os grupos
parlamentares e, nesse sentido, tendo em conta a prerrogativa que o próprio Regimento da Assembleia da
República estabelece, o Grupo Parlamentar de Os Verdes está disponível para que este projeto de resolução
baixe à respetiva Comissão sem votação — aliás, já apresentámos um requerimento à Mesa nesse sentido —,
para que, nessa sede, possamos consensualizar um texto que tenha o maior consenso possível por parte dos
demais grupos parlamentares.
Estamos nisto com grande seriedade, em benefício da sustentabilidade dos nossos rios internacionais e do
nosso território e, nesse sentido, é essa a proposta que fazemos.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem agora a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado
Pedro Soares.