I SÉRIE — NÚMERO 24
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O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem agora a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado
André Silva.
O Sr. André Silva (PAN): — Sr. Presidente, Sr.as Deputadas e Srs. Deputados: As regras respeitantes à
proteção e ao desenvolvimento sustentável das águas transfronteiriças que partilhamos com Espanha
encontram-se inscritas na Convenção de Albufeira, que entrou em vigor em janeiro de 2000.
Um dos problemas desta Convenção é que, apesar de instituir caudais semanais, não prevê caudais diários.
Esta situação leva a uma gestão dos caudais incompatível com as necessidades ecológicas dos rios que está a
afetar a preservação da biodiversidade e dos ecossistemas.
Espanha não está a fazer uma gestão equilibrada à escala semanal com dias quase sem água a passar para
Portugal compensados por dias com volumes muito maiores para atingir os mínimos médios acordados.
A Convenção de Albufeira coloca os interesses económicos das empresas electroprodutoras, que têm a
concessão das barragens hidroelétricas, acima do equilíbrio dos ecossistemas. Basta constatar que o regime
de caudais é o mais conveniente à exploração das barragens concessionadas, sobrepondo-se a outras
utilizações económicas e colocando em causa os valores ecológicos.
As alterações climáticas e a presente situação de seca agravam a gestão transfronteiriça dos rios e irão
acentuar a má gestão destes ativos ecológicos, abrindo uma nova realidade a esta partilha de recursos.
Impõe-se a urgência da revisão do acordo. Este deve ser revisto e melhorado, ajustado às necessidades
ecológicas e às atividades económicas, aplicado de forma transparente e mais fiscalizado.
Assim, propomos: que se garanta uma revisão desta Convenção e que os seus resultados sejam obtidos
antes do final de 2018, garantido um debate aberto à sociedade civil; que se garantam caudais ecológicos em
todas as bacias hidrológicas, afluentes e rios internacionais; que sejam também implementados caudais
mínimos diários, nomeadamente no Tejo e no Douro; e, por fim, que todas as estações de monitorização estejam
em pleno funcionamento, em ambos os países, e que os seus dados sejam introduzidos no site oficial da
Convenção de forma regular, para fácil consulta e análise por parte de todos os interessados.
Sr.as e Srs. Deputados: Não podemos adiar o que já está atrasado. Se este acordo não garante a preservação
da biodiversidade e o equilíbrio dos ecossistemas do nosso País, significa que não respeita a soberania do
Estado português.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem, agora, a palavra, para uma intervenção, em nome do Grupo
Parlamentar do Partido Socialista, o Sr. Deputado José Manuel Carpinteira.
O Sr. José Manuel Carpinteira (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Saudamos o Partido
Ecologista «Os Verdes» por trazer esta importante iniciativa a debate.
A Cimeira Luso-Espanhola, realizada em Vila Real, no mês de maio passado, abordou a cooperação em
matéria de recursos hídricos, tendo os dois países salientado os avanços registados na Comissão para a
Aplicação e o Desenvolvimento da Convenção de Albufeira.
Nessa Cimeira foi manifestada a disposição comum para avançar no aprofundamento do regime de caudais
da Convenção de Albufeira e mandatou-se a Comissão para que diligencie no sentido de que tal possa ser
realizado durante o próximo ano.
A Convenção de Albufeira, assinada em 1998, estabelece, no seu artigo 1.º, que as partes, no seio da
Comissão, definem, para cada bacia hidrográfica, o regime de caudais necessário para garantir o bom estado
das águas, os usos atuais e futuros.
Em 2008, o regime de caudais foi redefinido, quando foi estabelecido um Segundo Protocolo Adicional à
Convenção de Albufeira, revisão essa, que fixou valores mínimos para os caudais trimestrais e semanais.
Contudo, o problema da Convenção de Albufeira é que menciona caudais trimestrais e semanais, mas não
prevê caudais diários. Esta situação leva a uma grande variação dos caudais, contrária às necessidades
ecológicas dos rios e que pode ser, igualmente, prejudicial às atividades económicas que dependem dos rios
transfronteiriços. Será, por isso, necessário negociar com Espanha caudais diários que respondam às
necessidades ecológicas dos rios.