I SÉRIE — NÚMERO 27
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O Sr. Heitor Sousa (BE): — Muito bem!
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Por isso, pergunto: onde é que estavam os direitos dos trabalhadores e a
preocupação com os sindicatos nessa altura?
Mas, além disso, é evidente a razão por que houve uma alteração ao pagamento dos subsídios de Natal e
de férias: ela existiu, como já foi aqui referido, para disfarçar o corte salarial, para disfarçar os cortes que estavam
a ser feitos, por via fiscal, no rendimento do trabalho. Foi para disfarçar o vosso corte que esta medida, que
agora foi revertida — e muito bem! —, foi feita na altura.
O CDS é agora a favor de que os trabalhadores tenham mais rendimento?
O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — Sempre!
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Evidentemente que não! Não é isso que está em causa.
A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — Agora é!
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Aliás, o modo como o PSD e o CDS optam por defender esta proposta é,
francamente, uma mistificação: falam em liberdade de escolha numa relação de trabalho, uma relação que
sabemos ser, por natureza, assimétrica. Aliás, toda a legislação laboral tem por base o reconhecimento da
natureza assimétrica de uma relação de trabalho.
Portanto, falar em liberdade contratual numa relação deste tipo é, pura e simplesmente, dar uma chancela à
liberdade de apenas uma das partes, que é a parte que tem o poder, o empregador,…
O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — É ao contrário!
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — … a parte de quem depende o trabalhador. Se o patrão propuser que o
trabalhador aceite, com grande liberdade e usando o seu arbítrio, a proposta do empregador de não lhe pagar
o subsídio de férias quando tem de lho pagar ou de não lhe pagar o subsídio de Natal no momento em que lho
deveria pagar, qual é a liberdade que o trabalhador tem para recusar essa proposta do empregador?
Srs. Deputados, o vosso discurso sobre o livre-arbítrio, sobre a liberdade de escolha, sobre os atos
voluntários do trabalhador numa relação que é, por natureza, assimétrica, faz lembrar aquela rábula do Raúl
Solnado, quando ele dizia ao filho: «Meu filho, quer queiras quer não queiras, vais ser bombeiro voluntário». É
o que faz lembrar, Srs. Deputados!
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Wanda Guimarães para uma intervenção.
A Sr.ª Wanda Guimarães (PS): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Muito claramente, da parte do
Partido Socialista, rejeitamos aquilo que o CDS defende neste projeto de lei, e não o fazemos apenas em
coerência com aquilo que acabámos de aprovar no Orçamento para 2018, fazemo-lo por uma razão maior, que
é, de facto, a observância da norma expressa no Código do Trabalho no sentido de que o subsídio de Natal seja
pago de uma só vez e o subsídio de férias, embora fracionado, deva ser pago antes do maior período de férias
a gozar.
De facto, o que isto pretende esconder é uma coisa velha, já de 2012, quando o Ministro Vítor Gaspar
pretendeu acabar com os dois subsídios.
O Sr. Tiago Barbosa Ribeiro (PS): — Essa é que é essa!
A Sr.ª Wanda Guimarães (PS): — Como não conseguiu acabar com os dois subsídios, arranjaram esta
solução intermédia. Portanto, o que é que estava em causa?