2 DE FEVEREIRO DE 2018
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com esses dados que temos de agir. Comparar salários com base nominal, como fez ontem o Ministro das
Finanças, não tem sentido nenhum. Não é preciso ser economista para saber que 100 €, há 5 anos, não valem
o mesmo que hoje.
É por isso que, no estudo do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social é referido que há
estagnação salarial, porque a evolução dos salários é só de 0,6%.
Sabemos que a massa salarial aumentou 6%, é o que mostram as contribuições para a segurança social,
mas o que isso nos diz é que foi criado emprego, não nos diz que os salários melhoraram.
É certo que, quando é criado emprego, como há novos contratos que, tipicamente, têm salários mais baixos
do que contratos com mais tempo, tal tenha algum efeito na composição salarial, mas é também certo que o
salário mínimo nacional aumentou 5% ao ano, e, portanto, se vamos especular sobre estes fatores, também
podemos dizer que houve camadas em que o salário desceu, certamente, quando houve estagnação.
A proposta que fazemos, Sr. Primeiro-Ministro, é que não façamos especulações, olhemos para os factos. E
o único estudo oficial que existe é o do Governo, que diz que há estagnação salarial. E diz mais: diz que há,
ainda, uma enorme prevalência dos contratos a prazo em Portugal, que duplica no caso dos contratos jovens.
Sr. Primeiro-Ministro, que fala tanto, e bem, da importância das qualificações em Portugal, não lhe parece
que se não mexermos na legislação laboral para combater a precariedade e valorizar salários e se continuarmos
a oferecer à geração mais qualificada estágios não remunerados ou contratos a prazo de 600 € ou 700 € as
qualificações vão para fora do País?
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Catarina Martins, sobre o CDS e a saúde estamos
entendidos: quando há um caso de legionella num hospital público, a culpa é das cativações, quando há um
caso de legionella num hospital privado, a culpa continua a ser das cativações do Estado.
Aplausos do PS.
Esse é o padrão relativamente à preocupação que o CDS tem e à seriedade com que aborda esta matéria.
Quanto à questão do mercado de trabalho, recordar-se-á que, quer na mensagem de Natal quer na primeira
intervenção que fiz na Assembleia da República neste ano, afirmei que o grande desígnio que temos de ter para
este ano é o da melhoria do emprego. Estamos a ter mais crescimento, estamos a ter maior igualdade, estamos
a ter melhor emprego, mas não podemos estar satisfeitos com a qualidade do emprego que temos.
A qualidade do emprego tem de melhorar em diversas perspetivas: tem de ser mais estável e tem de ser
mais bem remunerado. Só assim conseguiremos, efetivamente, fixar não só estas novas gerações, mas também
retribuir justamente aqueles que já estão, hoje, no mercado de trabalho.
Os números que temos, oficialmente, demonstram que não é só o salário mínimo nacional que tem subido
acima da inflação. Todos os salários têm subido acima da inflação e temos de reforçar a melhoria da
remuneração. Mas algo muito importante tem vindo a acontecer: é que, normalmente, quando, depois de haver
grandes aumentos de desemprego, há uma retoma do mercado de trabalho, ela assenta, sobretudo, em
contratos precários. Ora, o que hoje sabemos é que 78% dos 288 000 novos postos de trabalho criados, em
termos líquidos, não foram criados com base em contratos a termo, mas antes com base em contratos
definitivos. Isto é uma melhoria, em si, importante, no mercado de trabalho.
Temos de responder às novas gerações e às gerações antigas. Às gerações antigas procurámos responder,
desde logo, com a legislação que já aprovámos, e que já está em vigor, para a primeira fase das mais longas
carreiras contributivas. Sabemos que temos um caminho a percorrer e iremos, seguramente, percorrê-lo nesta
Legislatura.
Temos também de olhar para as novas gerações. Aí, começámos por olhar alterando as políticas ativas de
emprego, para que estas não eternizassem os mecanismos de meros estágios, substitutivos de verdadeiros
postos de trabalho, mas que, pelo contrário, incentivassem a contratação com recurso a contratos definitivos.