2 DE FEVEREIRO DE 2018
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Não se pode desvalorizar esse impacto positivo, mas também não se pode fechar os olhos aos traços
negativos que permanecem e que continuam a desenvolver-se na realidade laboral e social portuguesas. Não
há estudo elaborado nos últimos tempos, incluindo os produzidos oficialmente, cujos dados sobre a evolução do
trabalho e do emprego no nosso País não revelem a estagnação média dos salários reais e o crescimento da
precariedade laboral.
Há problemas que tiveram resposta aquém do que era necessário, como é o caso do processo de integração
dos trabalhadores da Administração Pública com vínculos precários, que ameaça eternizar-se, ou o dos valores
muito reduzidos que resultam da forma como o Governo está a concretizar o descongelamento da progressão
das carreiras.
Mantêm-se outros problemas graves, como os de desregulação dos horários de trabalho, dos processos de
despedimento, de deslocalizações, de insolvências de empresas que deixam os trabalhadores desprotegidos.
Estes são traços negativos que são indissociáveis de uma legislação laboral que, nos últimos anos, foi
profundamente alterada para pior por sucessivos Governos, incluindo pelo anterior, PSD/CDS, que os tornou a
agravar.
A defesa dos direitos dos trabalhadores vai muito para lá da alteração da legislação laboral, mas esta é uma
componente importante que não pode ser desvalorizada e sobre a qual não adianta fazer considerações gerais.
É preciso fazer opções que, no concreto, se traduzam em melhores condições de trabalho, numa distribuição
mais justa da riqueza a favor dos trabalhadores.
Amanhã, estará aqui, para votação, uma proposta do PCP no sentido de repor o pagamento do trabalho
extraordinário e do trabalho em dia feriado. Outras se seguirão, nomeadamente para ultrapassar esse grave
problema da caducidade nas convenções coletivas de trabalho que é usada como elemento de chantagem sobre
os trabalhadores para a retirada de direitos, bem como a eliminação do princípio do tratamento mais favorável
ao trabalhador.
Sr. Primeiro-Ministro, não considera que está na hora de mudarem de posição, de atacar os graves
problemas resultantes dos desequilíbrios causados pela legislação laboral profundamente injusta, começando
já amanhã por aprovar a proposta que traremos a debate?
Esperaremos que nos acompanhem. Já sabemos que o PSD não o fará…
Vozes do PSD: — Oh!
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Está na sua génese! Percebe-se perfeitamente pelos apartes e pela
intervenção inicial!
Mas esperamos que nos acompanhem neste que deveria ser um primeiro passo de um novo ciclo de
reposição de rendimentos e direitos legítimos que contribuam para inverter a grave situação de degradação
laboral que se criou.
Valho-me, até, da argumentação que fez, Sr. Primeiro-Ministro: a reposição de rendimentos e direitos permitiu
o desenvolvimento económico e o crescimento do emprego.
Ora aí está, Sr. Primeiro-Ministro. Que fazer, então? Parar? Andar para trás? Ou andar para a frente no
sentido do progresso e da justiça social que é devida aos trabalhadores?
Aplausos do PCP e de Os Verdes.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra, para responder, o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr. Deputado Jerónimo de Sousa, não o tentei convencer de
nada, limitei-me a dizer aquilo que é a realidade.
Se me pergunta se considero que a realidade é boa, digo-lhe que não, que a realidade é má. É absolutamente
lamentável que uma empresa não tenha ainda conseguido, passados estes meses, repor as condições do
serviço.
Mas o Estado tem respondido ao que lhe compete responder: respondeu no apoio à reconstrução das
primeiras habitações; respondeu relativamente ao apoio à reposição dos equipamentos municipais; respondeu
relativamente à reposição da capacidade produtiva dos agricultores; respondeu em relação à necessidade de