I SÉRIE — NÚMERO 45
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não nos incomoda, porque é assim a democracia. Não defendemos que se deixem de divulgar os dados que
originam os rankings, o que queremos é que se melhore o trabalho de análise desses elementos.
Infelizmente, ainda há quem use os rankings como propaganda ou como arma de arremesso, por exemplo
da escola privada contra a escola pública. Há muito quem caia na armadilha de ignorar a diferença entre dados,
informação e conhecimento. E digo «armadilha» porque só obtemos informação a partir de dados se eles forem
estruturados, interpretados, contextualizados. E só chegamos ao conhecimento se formos capazes de mobilizar
dados e informação para compreender, para construir respostas a desafios bem identificados, para tomar
decisões relevantes. Por isso, importa sublinhar que, ao longo dos anos, muito tem sido feito para melhorar os
métodos de análise e para evitar simplificações perigosas em torno dos rankings.
Um bom exemplo desse trabalho é o indicador «percurso direto de sucesso», construído com base em
informação disponibilizada pelo Ministério da Educação desde há dois anos. Indicador que não valoriza só as
notas positivas nos exames, valoriza também os percursos sem retenções; indicador robusto porque combina
avaliação interna e externa, que leva em conta a situação dosalunos que cada escola recebe à entrada do ciclo,
indicador que não premeia a retenção. Importa sublinhar isto porque o Ministério da Educação não se limita a
recusar um ranking cego de exames, o Ministério da Educação trabalha para acrescentar inteligência a este
exercício público, para que os rankings não reforcem práticas pedagógicas erradas e, isso, sim, promovam a
missão educativa global das escolas.
Aplausos do PS.
E temos de reconhecer que há sinais interessantes nessa direção.
Por exemplo, um conhecido sítio de notícias em linha, além do ranking dos exames, elaborou, com os dados
fornecidos pelo Ministério da Educação, um ranking do sucesso, inspirado no indicador «percurso direto de
sucesso».
Este ranking do sucesso permite-nos fazer observações na lista interativa. Por exemplo, para o secundário,
as 20 primeiras escolas no ranking dos exames são todas privadas. Pedimos, depois, as 20 primeiras no ranking
do sucesso: 10 são públicas e 10 são privadas.
Fazemos o mesmo exercício para o 9.º ano. As 20 primeiras escolas no ranking dos exames são todas
privadas. Nas 20 primeiras no ranking do sucesso, 15 são públicas e 5 são privadas. Significativo.
Verificamos que há um número importante de escolas bem colocadas no ranking dos exames, cujo retrato é
muito menos favorável no ranking do sucesso. E isto é sistematicamente ignorado em alguns títulos gordos que
se fazem por estes dias. Isto tem de ser dito, porque as métricas não são neutras. Escolher olhar
preferencialmente para os exames é desvalorizar a maior fatia da avaliação, que é a avaliação interna, e também
é olhar exclusivamente para a dimensão cognitiva, desvalorizando as dimensões de valores e atitudes.
Repito: as métricas não são neutras. Não queremos métricas que ignorem o trabalho das escolas a favor da
inclusão dos alunos com deficiência, nem métricas que desvalorizem o trabalho com migrantes e minorias, nem
métricas que menorizem as escolas que remam contra as desigualdades injustas. Não queremos eliminar
completamente os elementos de competição que existem na avaliação, porque a competição também faz parte
da vida, mas fazer comparações que se limitam a exacerbar a competição é pouco educativo.
Aplausos do PS.
Não queremos métricas míopes. Os estudos, realizados há algum tempo pela Universidade do Porto, que
concluíam que as escolas privadas preparam melhor para os exames, mas preparam pior para um bom
desempenho no ensino superior, devem fazer-nos pensar, porque não aceitamos que os rankings sejam um
instrumento de facilitismo, nem um olhar curto e imediatista sobre matérias tão sérias.
Tal como, sabendo-se que há uma clara associação entre pertencer a um meio socialmente desfavorecido e
ter mais insucesso escolar, não aceitamos que uma tipologia de escolas continue a negar ao escrutínio público
os indicadores de contexto.
Importa que nada neste exercício seja propaganda.
O que precisamos é de tirar lições para o futuro. Precisamos de saber por que é que a escola pública ainda
não consegue vencer as desvantagens socioeconómicas e culturais de partida. Precisamos de saber por que é