8 DE FEVEREIRO DE 2018
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Srs. Deputados, continuamos a ouvir membros do Governo a falar na descentralização e na urgência da sua
concretização, continuamos a ouvir membros do Governo e do Partido Socialista a garantir prazos e datas, mas,
se olharmos para a forma como todo o processo está a ser conduzido, perguntamos: será que o Governo e o
PS querem mesmo finalizar este processo?!
Note, Sr. Deputado Jorge Oliveira, no anteprojeto da nova lei das finanças locais, segundo a comunicação
social, apenas em 2023 o Estado passará para as autarquias a totalidade das verbas previstas. Por isso, Sr.
Deputado, tem V. Ex.ª a certeza de que é da vontade do Partido Socialista e de que é da vontade do Governo
proceder e dar continuidade a esta importante reforma iniciada pelo anterior Governo? É que nós, no CDS,
temos grandes dúvidas de que isto seja uma realidade.
Aplausos do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Tem agora a palavra, para pedir esclarecimentos, a Sr.ª Deputada
Paula Santos.
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Sr.ª Presidente, cumprimento o Sr. Deputado pelo tema que traz à discussão
e creio que seria importante, nesta discussão, fazer uma referência: se o princípio da descentralização é um
princípio positivo, devemos olhar para ele em toda a sua dimensão e não devemos concentrar-nos, apenas, na
transferência de competências da administração central para as autarquias, porque a descentralização é muito
mais do que isso.
A descentralização é termos a articulação adequada entre os vários níveis de poder do nosso Estado e a
verdade é que há um que ainda falta, que é a regionalização, e esta é uma questão central nesta discussão.
Quando falamos em descentralização, temos de colocar em cima da mesa a necessidade de criar as regiões
administrativas, tal qual coloca a nossa Constituição, porque isso vai responder a muitos problemas, incluindo
aos problemas relacionados com o desenvolvimento regional, que hoje o PCP trouxe à discussão, também, na
Assembleia da República.
Mas, quando falamos de descentralização, também há um outro aspeto que importa referir e que,
frequentemente, o PSD não aborda — e não o aborda porque as extinguiu —, que são as freguesias. Se
queremos uma organização administrativa do Estado que melhor sirva as populações, vamos, então, repor as
freguesias onde seja essa a vontade das populações, porque foi isso, também, que as populações e as
autarquias vieram dizer, aqui, à Assembleia da República, quando esteve em discussão a nossa iniciativa para
a reposição das freguesias.
Há um outro aspeto que importa referir, Sr. Deputado. Na sua intervenção, faz referência às experiências
positivas, e creio que estava a falar do processo de responsabilidade PSD/CDS, de 2015, relativamente aos
contratos interadministrativos, mas não é essa a realidade.
Ao longo dos últimos anos, aquilo que verificámos é que a transferência de competências para as autarquias
significou, sempre, duas coisas: desresponsabilização do Governo daquilo que são as suas responsabilidades
e as suas competências e transferência de encargos para as autarquias, porque não foram assumidos os meios
e as condições para o exercício dessas mesmas competências. E isto também esteve presente na legislação
da responsabilidade do PSD/CDS, na transferência de competências na área das autarquias, em que não foram
transferidos, também, os meios para se poder fazer face a essas mesmas competências.
Nós estamos de acordo com a análise destes processos e desta proposta, por parte do Governo…
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Tem de terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Paula Santos (PCP): — Vou já terminar, vou ser telegráfica.
Nós estamos de acordo em que é necessário termos os elementos e os estudos que nos permitam analisar
e refletir uma proposta com tamanha dimensão para percebermos, efetivamente, o que se pretende transferir
para as autarquias, se são competências, se são encargos. Esta é a questão.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Sr.ª Deputada, tem mesmo de concluir.