9 DE FEVEREIRO DE 2018
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Primeiro, impedir que haja entidades empregadoras que acham que estão acima da lei e que Portugal é o
faroeste. Dou-lhe o exemplo da RTP. A RTP está nesta semana a propor aos seus trabalhadores que assinem
um contrato em que fica expresso entre as partes que não se estabelece qualquer relação de trabalho
subordinado, mesmo havendo os indícios de laboralidade que implicam o reconhecimento do contrato. Estes
contratos que a RTP está a propor são um insulto ao Parlamento, são um insulto ao PREVPAP (Programa de
Regularização Extraordinária dos Vínculos Precários na Administração Pública), são um insulto à ACT
(Autoridade para as Condições de Trabalho), são um insulto aos tribunais e são um insulto aos trabalhadores,
e é preciso que sejam retirados e analisados. Não pode a RTP contornar as obrigações de regularização dos
precários.
Aplausos do BE.
Segundo, é preciso mudar a lei. Gostava de trazer a este debate o relatório do grupo de trabalho que fizemos
e em que participaram o Sr. Secretário de Estado, eu próprio, Deputados do Partido Socialista e especialistas
independentes. É que esse relatório estabelece um compromisso entre o Bloco de Esquerda e o Governo que
não tem a ver apenas com a questão da rotatividade e da sua taxa, mas acabar com os três alçapões que
existem na lei dos contatos a prazo, acabar com a possibilidade de contratar a prazo para funções permanentes
quando se trate de jovens, como a lei hoje prevê, quando se trate de desempregados de longa duração ou para
empresas em início de atividade. Existe este compromisso e é preciso concretizá-lo!
É porque temos, hoje, uma política económica diferente da do PSD e da do CDS, porque houve um acordo
entre o Partido Socialista, o Bloco de Esquerda e o PCP para inverter a austeridade. Não podemos ter a mesma
lei laboral da direita, nem um acordo entre o PS, o PSD e o CDS para manter essa lei laboral.
Já dissemos, e repetimos: há aqui uma maioria para alterar o Código do Trabalho. Para isso, é preciso fazer
funcionar essa maioria à esquerda.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís Ferreira, do Grupo
Parlamentar do Partido Ecologista «Os Verdes».
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados:
Se o tema do debate que o PS agendou para hoje já era um tema atual, mais atualidade ganhou depois das
recentes pressões vindas da Comissão Europeia a propósito da legislação laboral no nosso País. É verdade! A
Comissão Europeia voltou a dar sinais de vida, desta vez sobre a legislação laboral.
Assim, num esforço com vista a pressionar o Governo português para reduzir a proteção laboral dos
trabalhadores com contratos sem termo, a Comissão Europeia pretende agora que os trabalhadores
portugueses sejam despedidos de forma mais fácil ainda.
Em bom rigor, vindo de onde vem, estas pressões não surpreendem. Nada de novo, portanto!
Aliás, estas considerações apenas confirmam aquilo que Os Verdes já há muito tem vindo a dizer: a União
Europeia está transformada num instrumento do neoliberalismo!
Para a Europa, que não é a Europa dos cidadãos, dos europeus, mas, sim, a Europa dos grandes negócios
e dos grandes bancos, as pessoas não contam nada, estão reduzidas a meras peças na engrenagem do lucro
rápido, na engrenagem do mundo laboral: trabalham, pagam impostos e dão lucro aos patrões. É assim que a
Europa olha para quem trabalha.
E, portanto, da Europa nada de novo!
Ainda assim, e também por isso, hoje, podemos dizer: ainda bem que PSD e CDS estão agora fora do
Governo, porque, se continuassem, já o Governo teria dito «sim, senhor» e, muito provavelmente, já estaria a
tratar de, obedientemente, materializar tais pretensões.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Ora aí está!