16 DE MARÇO DE 2018
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ser ratificado pelo parlamento britânico e por cada um dos parlamentos dos 27 Estados-membros, ou seja, desde
logo, por esta Assembleia da República.
Para além do Conselho, na sua formação a 28 ou a 29, este encontro será marcado por um momento
particularmente importante: a realização da cimeira da zona euro. É uma cimeira que muitos não desejavam que
existisse e que alguns procuram desvalorizar, mas é uma peça absolutamente chave e, para nós, portugueses,
não pode restar a menor dúvida de que tem de ser a primeira das prioridades na construção do futuro da União
Europeia.
Não há futuro para a União Europeia que não exija uma base sólida e a base sólida em que deve assentar é
na consolidação daquele que foi o avanço mais importante até hoje alcançado que foi a constituição do euro.
Para isso, é essencial completar aquilo que já está decidido, desde logo, a união bancária, com a garantia
comum de depósitos, com a existência de um backstop que permita apoiar os fundos de resolução, os avanços
relativos ao mecanismo europeu de estabilidade, mas temos de assegurar que esta discussão é abrangente e,
sobretudo, que se centra naquilo que tem de ser a maior prioridade para concluir a zona euro como uma união
monetária madura: termos uma capacidade orçamental própria.
Bem sei que há dúvidas sobre qual a função desta capacidade orçamental. Deve servir, sobretudo, para
enfrentar choques futuros ou para financiar investimentos que fomentem a convergência das economias? Do
nosso ponto de vista, idealmente, a capacidade orçamental deveria poder desempenhar ambas as funções,
mas, mais importante do que fazer face a choques futuros é prevenir a sua existência e aquilo que hoje todos
sabemos é o que se sabe, desde há muito, sobre as uniões monetárias: elas não fomentam a convergência,
pelo contrário, acentuam as assimetrias entre as economias.
Por isso, a prioridade das prioridades tem de ser termos uma capacidade orçamental que permita realizar os
investimentos necessários para que a convergência seja possível e essa capacidade orçamental deve, assim,
estar associada, muito claramente, ao exercício do semestre europeu.
O semestre europeu não deve ser um momento em que a Comissão faz, simplesmente, recomendações aos
Estados-membros ou em que os pune por estarem em situações de desequilíbrios excessivos. Deve ser um
momento em que, identificando a necessidade de reformas, sejam disponibilizados aos Estados-membros os
meios necessários para que essas reformas se possam efetivar.
No caso português, por exemplo, é muito claro que, sendo um dos nossos principais desequilíbrios centrado
nas qualificações, deveríamos poder beneficiar de uma capacidade orçamental centrada naquilo que é
fundamental, designadamente o reforço das qualificações da população ativa, a formação ao longo da vida e o
desenvolvimento das competências digitais como condições fundamentais não só para a cidadania, não só para
o reforço da dignidade do trabalho, mas também para a melhoria da produtividade das nossas empresas e para
a competitividade da nossa economia.
Julgamos, portanto, que dotar a zona euro de uma capacidade orçamental é absolutamente essencial, mas
isso obriga-nos, também, a responder à questão de «como financiar esta capacidade orçamental?». E, aí,
devemos ser claros: a União Europeia e a zona euro precisam e merecem ter mais recursos próprios.
Claro que com a saída do Reino Unido vamos ter menos recursos, claro que com novas políticas na área da
segurança, da defesa, do digital, vamos ter novos encargos e creio que todos estamos de acordo em que não
devemos diminuir os recursos alocados à política agrícola comum ou à política de coesão.
Ora, se temos menos recursos, mais necessidades e não queremos sacrificar políticas que são pilares
identitários da União Europeia e fundamentais para Portugal, tais como a política agrícola ou a política de
coesão, então, precisamos de dotar a União Europeia de mais recursos. Mais recursos transferidos por cada
Estado-membro dos impostos dos seus nacionais, com certeza, mas devemos, de uma vez por todas, assumir
à escala europeia as propostas há muito tempo em debate, que já constam do relatório Monti, ou seja, esses
recursos, em vez de incidirem exclusivamente sobre o esforço de cada Estado, devem poder incidir sobre a
especulação financeira, sobre a importação de bens poluidores, sobre as transações no espaço digital, que hoje
são objeto de elisão fiscal. Todos os Estados-membros, por maiores que sejam, têm dificuldades em conseguir
tributá-los, mas se forem tributados à escala europeia teremos melhores condições e dotaremos a União dos
recursos necessários sem um sacrifício suplementar de cada Estado-membro que, necessariamente, só o
poderia financiar com os impostos dos seus próprios nacionais.
É por isso importante que dos relatórios sucessivos, que, desde Delors, desde Lord MacDougall, insistiam
na necessidade da capacidade orçamental, passemos à concretização, e que, dos relatórios Monti, que propõem