I SÉRIE — NÚMERO 60
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Vozes do PS: — Bem lembrado!
O Sr. José Miguel Medeiros (PS): — Sr. Primeiro-Ministro, deixo-lhe um repto final. Num momento em que,
ao nível dos sistemas e serviços públicos, como é o caso, hoje aqui falado, da educação e da saúde, o Governo
é convocado para empreender uma recuperação mais rápida do desinvestimento e da degradação a que nos
conduziram as ações e omissões do Governo anterior, impõe-se, nesta altura, um compromisso muito forte com
os portugueses.
Por isso, é muito importante — e é este o repto que lhe quero deixar —, para reforçar a confiança dos
portugueses no Estado e nas suas estruturas, também e especialmente a propósito da prevenção e do combate
aos incêndios florestais, que este compromisso seja claramente reafirmado no encerramento deste debate.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr. Deputado José Miguel Medeiros, o Governo não acordou
para esta realidade no dramático dia 17 de junho. Recordo que, no dia em que o Governo fez 100 dias de
vigência, no dia 5 de março de 2016, constituímos a Unidade de Missão para a Valorização do Interior (UMVI),
que iniciou, então, um trabalho de fundo sobre a caracterização e elaboração de um programa de intervenção
no conjunto das regiões do interior do País.
Durante o verão de 2016, Portugal não sofreu a tragédia humana de 2017, mas voltou a ser atingido de novo
por uma vaga de incêndios como há muitos anos não acontecia. E, nessa altura, o Governo assumiu o
compromisso de ser tão firme e determinado na reforma da floresta como, em 2006, havíamos sido para fazer
a reforma da proteção civil.
É que, como o Sr. Deputado se recorda — porque, na altura, era Governador Civil e, depois, foi Secretário
de Estado também da proteção civil —, na altura em que se fez a reforma da proteção civil, dissemos muito
claramente que o que estávamos a fazer não era resolver o problema de fundo, porque o problema de fundo
passava efetivamente pela revitalização do interior e pelo reordenamento da floresta. Aquilo que a proteção civil
podia fazer era emprestar tempo para que se fizesse a reforma da floresta.
Ainda em 2011, tive oportunidade de escrever que, infelizmente, o tempo que tinha sido oferecido pela
proteção civil não estava a ser aproveitado. E, de facto, esse tempo foi significativo. Na década anterior a 2006,
tivemos de área ardida uma média de 200 000 ha/ano. Baixámos, depois de 2006, para uma média de 70 000
ha/ano, abaixo dos 100 000 há/ano que estavam previstos no plano de gestão da floresta. E, a partir de 2012,
começámos a subir para os 100 000 ha de área ardida por ano.
O desaproveitamento deste tempo foi trágico. Foi trágico porque a floresta se desordenou mais. Foi trágico
porque, tendo diminuído a área ardida, aumentou o combustível para arder. E foi trágico porque este
desaproveitamento coincidiu com alterações climáticas significativas, que fizeram com que, nos últimos anos,
tenham sido recorrentes situações climatéricas mais dramáticas e fenómenos meteorológicos mais atípicos.
Estamos, por isso, hoje, em piores condições do que estávamos em 2006. E foi, infelizmente, necessária a
tragédia humana de 112 vítimas mortais para que uma reforma da floresta, que tínhamos iniciado num Conselho
de Ministros em maio de 2016, tivesse finalmente despertado o interesse do País.
Foi extraordinário ouvir, nessa altura, os opinion makers dizerem que se estava a fazer uma reforma da
floresta à pressa para responder à tragédia de Pedrógão, ignorando que aquela reforma tinha sido objeto de um
Conselho de Ministros extraordinário em outubro de 2016 e em março de 2017, que estava aqui pendente na
Assembleia da República desde abril de 2017 e que o que se estava a fazer era simplesmente a concluir um
processo que muitos meses antes tinha sido iniciado.
Aplausos do PS.
É, de facto, um dos maiores problemas do País a péssima qualidade da nossa informação, que só desperta
para o problema no meio da tragédia e se esquece habitualmente do problema na hora certa de prevenir que a
tragédia possa vir a ocorrer.