16 DE MARÇO DE 2018
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Por exemplo, a economia digital não pode ser uma enorme economia informal, em que os Google e os
Facebook desta vida não pagam impostos. E até concordamos que possam existir novas formas de taxar esta
economia, geradora de cada vez mais dinheiro e que fará — e vai fazer com certeza! — parte do nosso futuro.
Quanto ao imposto sobre transações financeiras que foi proposto, o Bloco de Esquerda reclama-o há quase
20 anos e, portanto, também acompanhamos esta proposta e o respetivo debate.
Já no que toca à proposta do imposto para empresas poluentes, não podemos acompanhar a lógica, Sr.
Primeiro-Ministro, porque o que se faz com este tipo de proposta é permitir — como, aliás, já é possível ao abrigo
de outros acordos — que quem pode pagar para poluir o fará, poderá fazê-lo abertamente, e isto, achamos nós,
é contraproducente com a urgência de tudo fazermos para combater as alterações climáticas.
Mas há um debate anterior à concretização destas receitas. É que estes impostos sobre as multinacionais e
sobre o grande capital não vão passar, e nós cá estaremos para ver também quais serão as ilações que o Sr.
Primeiro-Ministro vai tirar desse facto.
Para já, o que está certo é o desvio de dinheiro para o militarismo. Pergunto: o que diz o Governo português
sobre isso? Será que o debate sobre as fontes de receita é para fugir a uma derrota anunciada? Ou será para
esconder uma submissão a um novo orçamento europeu, em que Portugal será objetivamente prejudicado?
Os bons alunos europeus têm apresentado maus resultados a Portugal ao longo dos anos. Fala-se em
democracia e em poder de decisão para os Estados, mas a escolha é a de um aprofundamento de mecanismos,
cada vez menos democráticos, de instrumentos orçamentais que vão limitando cada vez mais a possibilidade
de decisão autónoma e própria dos Estados.
Quando, por exemplo, o Sr. Primeiro-Ministro fala — e falou ontem — de mecanismos de convergência numa
base contratual, fala-nos, na verdade, de um contrato de longo prazo que limita objetivamente escolhas políticas
de cada Estado-membro que possam ser feitas no futuro, logo, limita-se o escrutínio e o papel da própria
democracia em cada Estado-membro, e também aqui não poderemos acompanhar este tipo de proposta, porque
desvirtua aquilo que é o papel dos Estados.
Portanto, que democracia é essa, em que as pessoas ficam impedidas, no futuro, de optar sobre as decisões
conjuntas que têm de tomar, porque é de democracia que falamos, Sr. Primeiro-Ministro, é até das competências
deste Parlamento e da salvaguarda de acordos parlamentares com incidência orçamental. Não concorda, Sr.
Primeiro-Ministro?
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José de Matos Correia): — É a vez do Grupo Parlamentar do CDS-PP.
Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Luís Pedro Mota Soares.
O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Membros do Governo,
Sr.as e Srs. Deputados: Permita-me, Sr. Primeiro-Ministro, que comece pela matéria do próximo Conselho
Europeu.
É normal que o Conselho Europeu de março, o Conselho Europeu da Primavera, se foque nas
recomendações que a Comissão Europeia faz a cada um dos Estados-membros sobre os progressos ou
retrocessos em matérias que têm a ver com o emprego, com a economia, com a competitividade. Quando lemos
o relatório da Comissão Europeia, continuamos a ver que os predicados que a Comissão Europeia continua a
usar são relativos à necessidade de Portugal apresentar reformas estruturais que ajudem a esse mesmo
crescimento. Aliás, a Comissão Europeia até tem elogiado muito as reformas que Portugal fez nos últimos sete
anos em matérias de mercado de trabalho, de justiça e de educação.
Protestos do Deputado do PCP Jorge Machado.
Mas nós conhecemos o discurso dúplice que o Governo tem nesta matéria.
Em Portugal, o Primeiro-Ministro dá uma entrevista onde diz que, e cito, «se arrepia com o termo reformas
estruturais».
Protestos do PS.