17 DE MARÇO DE 2018
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O Sr. Heitor Sousa (BE): — Pela nossa parte, não hesitamos um minuto na resposta a cada uma destas
questões. As Deputadas e os Deputados do Bloco de Esquerda foram eleitos para defender os interesses das
populações, mesmo que isso incomode os interesses da Altice.
É essa a nossa responsabilidade e, por isso, trazemos hoje a este Parlamento a escolha justa e sensata de
resgatar a rede básica da Portugal Telecom para a esfera do Estado, de onde nunca deveria ter saído.
Aplausos do BE.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Tem a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado José Luís
Ferreira.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Ignorando completamente
o interesse público e seguindo fielmente a doutrina do «quanto menos Estado, melhor», o Governo PSD/Cavaco
Silva iniciou o processo de privatização de uma das maiores empresas portuguesas, a Portugal Telecom.
Com esta privatização, o Estado perdeu o controlo da PT, além de receitas fiscais e dividendos. Recorde-se
que, desde o ano 2000, a PT distribuiu pelos seus acionistas cerca de 15 000 milhões de euros. Como se previa,
esta privatização, tal como tantas outras, apenas beneficiou os grandes grupos económicos e financeiros, que
passaram a deter setores estratégicos e lucrativos, fragilizando o poder do Estado e a sua própria autonomia
face a alguns centros de decisão que vão saindo do País, tal como milhares de milhões de euros de dividendos
que seguem o mesmo destino.
Mais: com a venda da PT à Altice — um fundo financeiro e, como tal, especulativo que procura o maior lucro
no menor espaço de tempo — está a decorrer um processo de desmantelamento e destruição da PT, tendo já
vindo a público a pretensão da Altice em vender, de forma fracionada, muitos ativos da empresa, como por
exemplo as torres de comunicações.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Exatamente!
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Entretanto, esta multinacional francesa tem tido um comportamento
muito pouco digno, no que diz respeito aos direitos dos trabalhadores, promovendo terrorismo psicológico,
desvalorizações profissionais, práticas de assédio, deslocação de trabalhadores para unidades-fantasma sem
atribuição de funções, com o claro propósito de os forçar a rescindir os respetivos contratos.
Por outro lado, o serviço prestado tem vindo a degradar-se e os preços têm registado aumentos substanciais.
Ou seja, os 23 anos de privatização da PT vieram demonstrar claramente a necessidade do controlo público
desta empresa estratégica para o País, desde logo, pelo incumprimento das obrigações de serviço e interesse
público, não só ao nível das comunicações fixas e móveis propriamente ditas mas, sobretudo, no que concerne
às suas infraestruturas.
Embora a PT não seja hoje a operadora responsável pelo serviço universal da rede fixa, os incêndios que
ocorreram em 2017 vieram realçar as fragilidades da rede de infraestruturas de telecomunicações detidas pela
Altice e evidenciar não só o desinvestimento nas áreas de baixa densidade como o desrespeito para com os
próprios clientes que estiveram vários meses sem qualquer tipo de telecomunicações, fixas ou móveis, devido
à demora na reposição das infraestruturas.
Assim, considerando que a PT é uma empresa estratégica para o País, que é urgente impedir a destruição
de uma empresa com a sua dimensão, que se torna imperioso assegurar os milhares de postos de trabalho e
que é necessário colocar um travão aos atropelos aos direitos dos trabalhadores e pré-reformados;
considerando ainda que hoje o centro de decisão desta empresa estratégica não está no nosso País, que é
absolutamente necessário impedir a pretensão megalómana de domínio da comunicação social pela Altice, que
é necessário procurar caminhos que garantam que a PT seja uma grande empresa de capitais nacionais sob
controlo público — a única forma, aliás, de assegurar que o setor das telecomunicações esteja ao serviço do
desenvolvimento do País e do interesse dos portugueses —, perante tudo isto, Os Verdes consideram que o
Governo deve impedir a destruição da Portugal Telecom e que tem o dever de salvaguardar os direitos dos
trabalhadores, bem como o de garantir o serviço público universal ao nível da rede fixa e de comunicações, o