I SÉRIE — NÚMERO 61
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que, aliás, só se afigura objetivamente viável se e quando a Portugal Telecom voltar a integrar a esfera do
Estado.
Ora, é exatamente o que se pretende com esta iniciativa legislativa que Os Verdes hoje apresentam para
discussão: a reversão da privatização da PT, para que a sua propriedade e gestão regressem à esfera do
Estado.
Aplausos de Os Verdes e de Deputados do PCP.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Agradeço ao Sr. Deputado o cumprimento, absolutamente
rigoroso, do tempo de intervenção.
Tem a palavra o Sr. Deputado Bruno Dias para uma intervenção.
O Sr. Bruno Dias (PCP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: A nossa primeira palavra vai para os
trabalhadores da PT, dos mais velhos aos mais novos, dos que estão no terreno aos que estão sem tarefas
atribuídas, dos que estão na precariedade dos call centers aos que trabalharam uma vida inteira na empresa,
desde os tempos dos CTT/TLP. Foram eles que fizeram da PT um pilar fundamental para o desenvolvimento do
nosso País, foram eles que estiveram e estão na primeira linha da luta para defender a empresa, é com eles
que estamos, lado a lado, e que daqui saudamos.
Aplausos do PCP.
É com a força dos trabalhadores que o PCP apresenta esta iniciativa legislativa, depois de escutar os milhares
que em julho passado, de Picoas até São Bento, nos diziam que a PT tinha de voltar para o Estado para se
travar a sua liquidação, defender os trabalhadores e o interesse nacional.
O percurso da PT é elucidativo do processo de destruição de uma grande empresa nacional. Desde o ano
2000, a empresa entregou aos seus acionistas quase 15 000 milhões de euros. Foram estes interesses ligados
aos grupos económicos e ao capital financeiro quem ganhou com a privatização. Já o Estado perdeu o comando
estratégico da PT, a receita dos dividendos e significativas receitas fiscais.
A PT foi e é entendida pelos grupos económicos, nomeadamente agora o Grupo Altice, na perspetiva do
desmantelamento e da venda às peças para sacar e expatriar lucros, dividendos e recursos fundamentais. Hoje
mesmo foi conhecida a decisão do comando europeu da Altice de alienar 3000 torres de comunicações em
Portugal por considerar que não têm interesse estratégico para os objetivos da multinacional. É esta a política
que está a ser imposta à empresa.
Durante meses, o PCP esteve sozinho a denunciar a situação que ainda se verifica com as comunicações
nas zonas afetadas pelos incêndios. Assistimos a um inacreditável desmentido da Altice, dizendo que o PCP
mentia e que as ligações estavam repostas. Ontem mesmo, a ANACOM confirmou que pelo menos 4600 famílias
continuam sem as telecomunicações repostas nestas áreas, quase todas por responsabilidade da Altice, cuja
administração continua a não reconhecer os graves problemas que provocou.
O PCP chamou já o Governo à Comissão para exigir a adoção de medidas imediatas.
Também a TDT evidenciou problemas gravíssimos que confirmaram os alertas que o PCP fez durante anos.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Exatamente!
O Sr. Bruno Dias (PCP): — É indispensável retirar consequências dos sucessivos estudos, debates e
diagnósticos já realizados nesta matéria.
Defendemos o alargamento e o reforço da rede de TDT, com a universalidade do acesso, a melhoria da
oferta, a disponibilização das emissões em alta definição e o aumento de canais em sinal aberto do serviço
público de televisão.
Defendemos uma rutura com as orientações e os interesses que têm dominado a atuação da Altice. O País
não pode aceitar a desintegração de empresas estratégicas fundamentais para a economia, antes deve lutar
pela defesa destas empresas e pela sua integridade, modernização e desenvolvimento ao serviço do interesse
nacional, o que passa de forma incontornável pela sua reversão para a esfera pública.