I SÉRIE — NÚMERO 62
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A Sr.ª Lara Martinho (PS): — Devo confessar-lhe que, durante os quatro anos que o Governo PSD/CDS…
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Sr.ª Deputada, pedia-lhe o favor de terminar.
A Sr.ª Lara Martinho (PS): — Vou terminar, Sr. Presidente.
Toda esta situação da contaminação da ilha Terceira era bem conhecida pelo anterior Governo PSD/CDS…
Vozes do PS: — Bem lembrado!
A Sr.ª Lara Martinho (PS): — … que nada fez, Sr. Deputado.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para uma declaração política, tem a palavra o Sr. Deputado
Jorge Campos, do Bloco de Esquerda.
O Sr. Jorge Campos (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: O financiamento de entidades
independentes de criação e difusão artística através da Direção-Geral das Artes é um dos mais importantes
mecanismos do Estado para assegurar o direito constitucional de acesso à cultura.
O financiamento da produção artística é decisivo para a vida cultural do País: permite produzir as obras de
arte com as quais aprendemos sobre o mundo, que nos ficam na memória e que ajudam a construir o que
somos.
São as estruturas de criação espalhadas pelo País, tantas vezes trabalhando com crianças e jovens, que
procuram novos caminhos, experimentando e reinventando linguagens, produzindo qualificação e cidadania e
que tantas vezes aplaudimos quando lhes é reconhecido o mérito.
Infelizmente, o financiamento é insuficiente e irregular. Cronicamente insuficiente e irregular porque a
realização de concursos, dados os sucessivos atrasos, não permite às estruturas nem cumprirem os respetivos
calendários, nem escaparem à precariedade decorrente da estagnação a que, muitas vezes, ficam condenadas.
Sr.as e Srs. Deputados, o Governo anunciou a mudança do modelo dos concursos de modo a corrigir
problemas bem identificados. A intenção parecia boa, o setor colaborou e as expectativas eram altas. O
resultado foi uma desilusão!
Subsistem, quanto a nós, três problemas fundamentais, sendo o primeiro o do subfinanciamento. Dissemo-
lo no debate do Orçamento do Estado, repetimo-lo agora: não é possível cumprir as obrigações do Estado para
com a cultura com orçamentos mínimos, quase residuais.
No caso das artes, mesmo com o aumento de um milhão e meio de euros, ontem anunciado pelo Primeiro-
Ministro — o qual se presume seja destinado aos concursos plurianuais em apreciação e não se sabendo ainda
como será distribuído —, mesmo com esse aumento, o valor dos apoios fica ainda 3 milhões de euros abaixo
dos valores de referência de 2009.
Reconheceu o Primeiro-Ministro que a verba para o concurso, e cito, «ainda estava aquém da dinâmica da
sociedade portuguesa» e que o reforço serve para que, e cito de novo, «não se frustre essa capacidade de
criatividade».
Ainda que insuficiente, o reforço é bem-vindo, mas é óbvio que resulta, fundamentalmente, da mobilização
indignada dos criadores cujas expectativas foram defraudadas.
Exemplo disso mesmo é um comunicado, sem precedentes, que em 24 horas reuniu mais de 500 atores em
sinal de repúdio pela situação criada.
O segundo problema é o dos atrasos concursais. Estamos em março e estruturas que pagam salários,
rendas, luz, que têm fornecedores, compromissos com teatros, museus, festivais, escolas, não sabem ainda se
terão financiamento. Está em causa e fica suspenso o serviço público que garantem, porque é disso que se
trata: de serviço público.
O Bloco de Esquerda chamou a atenção do Governo e convocou o Ministro da Cultura. Foi, então, anunciada
uma linha de crédito bonificado para as estruturas poderem manter as portas abertas. A medida até poderá não
ser má, mas tem um senão: quem a ela recorrer fica endividado ou ainda mais endividado.