22 DE MARÇO DE 2018
29
O Sr. José Carlos Barros (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, cumprimento o Sr. Deputado
Jorge Campos e felicito o Bloco de Esquerda por ter trazido a cultura a debate e até por se tratar de um setor
que praticamente desapareceu da ação governativa.
De facto, uma das grandes bandeiras deste Governo, o Ministério da Cultura — pasme-se —, parece estar
fechado para obras e a obrigar o Sr. Primeiro-Ministro a vir tratar das coisas da cultura, a fazer as vezes de
Ministro da Cultura, como ainda ontem assistimos ao Sr. Primeiro-Ministro a anunciar mais dinheiro para as
artes, como se a inação do Ministério se resolvesse com estes anúncios inopinados. Aliás, a anunciar, em tempo
de tão apregoado crescimento económico, um valor total ainda largamente abaixo dos valores de 2009, como o
Sr. Deputado referiu, quando, com a crise, o Governo de então, do Partido Socialista, iniciou os primeiros cortes
no apoio às artes.
E isto no exato momento em que o setor vive — aliás, sobrevive — uma situação dramática, primeiro, com o
sucessivo adiamento da abertura dos concursos e, entretanto, com a interrupção efetiva de qualquer apoio às
estruturas artísticas.
É assim nas artes, está a ser assim no cinema e no audiovisual, pela incapacidade de diálogo, pela falta de
financiamento, pelo adiamento dos concursos, pela falta de transparência no processo de regulamentação da
lei do cinema, tudo isto, para usar uma expressão da associação de produtores, com consequências desastrosas
para o setor.
Mas é também assim no património, como está a acontecer com a reabilitação dos carrilhões de Mafra, por
exemplo, como vimos nesta semana, em que havia um concurso lançado em 2015, verbas asseguradas e em
que se previa a conclusão da obra em 2017. Pois este Governo, desde então, nem o visto do Tribunal de Contas
obteve, até ser obrigado a publicar, na semana passada, uma nova portaria, regressando dois anos e meio
depois ao ponto de partida.
É assim também na área da comunicação, que o Ministério da Cultura igualmente tutela. Neste mês, a ERC,
a Entidade Reguladora para a Comunicação Social, anunciou que não tem sequer condições de fazer o seu
plano de atividades e orçamento para 2018, porque o Ministério das Finanças — onde é que já ouvimos isto?!
— cativou 3 milhões de euros das quantias que tinham sido transferidas pela Autoridade Nacional de
Comunicações.
Termino felicitando, mais uma vez, o Bloco de Esquerda por trazer este tema a debate e perguntando, Sr.
Deputado, se o Bloco de Esquerda, daqui a uns meses, nos intervalos das críticas que vai fazendo, estará a
aprovar mais um Orçamento do Estado, como aprovou os três anteriores, e, na prática, a caucionar os
comprovados fracassos das políticas culturais deste Governo e este subfinanciamento, ao contrário do discurso
oficial que, hoje, o Sr. Deputado aqui denunciou.
Aplausos do PSD e da Deputada do CDS-PP Teresa Caeiro.
O Sr. Presidente (José Manuel Pureza): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Campos.
O Sr. Jorge Campos (BE): — Sr. Presidente, queria agradecer as questões suscitadas pela Sr.ª Deputada
Teresa Caeiro e pelo Sr. Deputado José Carlos Barros e, desde já, agradecer também o momento que a Sr.ª
Deputada Teresa Caeiro aqui nos proporcionou com humor, que é sempre bem-vindo e que estabelece uma
relação mais fácil entre nós, Deputados. Muito obrigado!
Dito isto, Sr.ª Deputada, é verdade que o orçamento da cultura é baixo, mas nós estamos aqui a tratar dos
apoios às artes, dos apoios aos concursos às artes, não estamos a tratar de dotações orçamentais, por exemplo,
para a Opart, são coisas diferentes. Estamos a tratar da criação e é sobre isso que estamos a cingir-nos.
Nesse sentido, a crítica que fazemos ao Governo é muito clara e é a crítica de sempre: entendemos que
estes orçamentos são muito baixos, que devem melhorar, devem ser aumentados. É nesse sentido que se
desenvolve a nossa ação política.
Sr.ª Deputada Teresa Caeiro e Sr. Deputado José Carlos Barros, nós sabemos que, nesta matéria, não há
soluções políticas com a direita. Não há! Nós temos uma relação dialética, se quiser, quer com o Partido
Socialista, quer com o Partido Comunista Português. É esta a base do entendimento que temos. Temos
convergências em determinadas matérias e em relação a outras discutimos abertamente as questões.
Mas há uma coisa que nunca fazemos, Sr. Deputado e Sr.ª Deputada: nós não assinamos nada de cruz.