29 DE MARÇO DE 2018
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O sistema de proteção civil não pode ser a esquina do negócio obscuro das PPP (parcerias público-privadas)
que deixam o País e o povo entregue à sua própria sorte nos momentos críticos, e muito menos pode ser saco
de pancada e bode expiatório de decisões políticas que põem às costas dos bombeiros e das suas associações
a responsabilidade pelas decisões dos governos. Por isso, o PCP apresenta propostas para libertar o sistema
de proteção civil das teias políticas e partidárias em que está permanentemente enleado; apresenta propostas
para que seja reconhecido aos agentes de proteção civil o papel determinante que devem ter em toda a sua
estrutura; apresenta propostas de investimento para que disponha integralmente dos meios de que necessita
para cumprir a sua missão e também para que o Estado garanta a proteção que deve aos homens e às mulheres
que põem a sua vida em risco a defender outras vidas humanas.
Defendemos todas estas propostas, insistindo em algumas delas pela enésima vez, porque é preciso retirar
consequências das opções políticas que estão por trás desta tragédia. E, não hesitamos em dizê-lo, a tragédia
dos incêndios tem a sua origem nas opções da política de direita realizada por sucessivos governos, do PS, do
PSD e do CDS, ao longo de mais de 40 anos, como, de resto, o Relatório da Comissão Técnica Independente
confirma.
Os problemas identificados naquele relatório não são problemas apenas do momento dos incêndios, são pro,
e são consequência da política de direita. Os problemas identificados são consequência dessa política que
empurrou o mundo rural para o despovoamento e o abandono e que deixou este território à mercê de catástrofes
como a dos incêndios de 2017; são consequência da política que deixou a floresta e os pequenos produtores
florestais entregues à voragem dos grandes interesses económicos, com a receita para o desordenamento
florestal que multiplicou a tragédia dos incêndios florestais; são consequência da política que, na proteção civil,
ao longo de anos, retirou o investimento público e, aos meios de combate, o dinheiro que esbanjou em contratos
de PPP para serviços que não funcionam, como o do SIRESP (Sistema Integrado de Redes de Emergência e
Segurança de Portugal); são consequência da política de abandono das populações à sua própria sorte, que os
relatórios identificam nas tragédias de 2017; e são consequência dessa política de direita que retirou o Estado
de três quartos do seu território, que destruiu serviços públicos, que incapacitou o Estado e o impediu de
assegurar a universalidade dos direitos constitucionais dos cidadãos, que o impediu de proteger as populações,
de desenvolver o País, não apenas nas circunstâncias dos incêndios, mas todos os dias.
Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: A tragédia dos incêndios de 2017 é a
expressão mais dramática do ponto de retrocesso até onde a política de direita nos trouxe, 44 anos depois do
25 de Abril.
O PSD e, principalmente, o CDS podem mostrar agora muita indignação, esbracejar, apontar para o lado,
que nada apaga as suas responsabilidades!
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Peço-lhe que conclua, Sr. Deputado.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Concluo, Sr. Presidente.
Mesmo que a Deputada Assunção Cristas já se tenha esquecido do que fez a Ministra Assunção Cristas, ou
que o PSD e o CDS só tenham lido a página 148 de um Relatório de 275 páginas, nada apaga a pesada
responsabilidade do PSD e do CDS no caminho que conduziu à tragédia de 2017.
Ao PS de pouco serve criticar a política de direita no discurso se, na ação e na decisão, caucionar ou levar
mesmo mais longe as mesmas opções da política de direita que nos trouxeram a desgraça do ano passado.
As posições e propostas que o PCP trouxe a este debate apontam o caminho a fazer e confrontam cada um
com a responsabilidade de contribuir para a rutura, cada vez mais necessária, com a política de direita. Que
cada um assuma a sua responsabilidade no caminho que quer fazer!
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tem, agora, a palavra, para uma intervenção, o Sr. Deputado Telmo
Correia.
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: Queria,
obviamente, e em primeiro lugar, dizer que este é um debate importante, que este é um tema importante e que