I SÉRIE — NÚMERO 65
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Por isso mesmo, começava por cumprimentar os membros da Comissão Técnica que se encontram a assistir
ao debate, felicitando-os pelo trabalho sério, técnico, rigoroso e independente que apresentaram a esta Câmara.
Queria, em segundo lugar, Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, dizer o seguinte: esta discussão marca
uma fronteira entre aqueles que querem discutir este Relatório que a Comissão Técnica nos apresentou em
concreto, aqueles que querem falar de outra coisa, de outro relatório, e ainda aqueles que gostam muito do
Relatório até à página 14, ou seja, até ao furacão Ofélia e que daí para a frente não sabem mais e, depois, só o
retomam no final para tentarem falar de algumas das conclusões, em relação às quais, de resto, ainda não
apresentaram, ao contrário do que fez o CDS, nenhuma proposta concreta para futuro.
Aplausos do CDS-PP.
Este Relatório, desse ponto de vista, é claríssimo. É, de resto, curioso, Srs. Deputados, o que este Relatório
nos diz. Houve uma falha maior, uma falha incrível de previsão de não saber que, naquelas circunstâncias, com
aquela tempestade, depois do que tinha acontecido em Pedrógão, era preciso ter todos os meios. Ou seja, diz
o povo, e sempre o disse, «casa roubada, trancas à porta». Mas os senhores não foram, sequer, capazes,
depois do que aconteceu em Pedrógão, de pôr trancas à porta e de tomar as precauções necessárias.
Houve uma falha de previsão — a previsão era de 11 em 13 na escala de Heinz em termos de risco
meteorológico.
Houve uma falha de organização — não houve a declaração de estado de calamidade preventiva, como, de
resto, tinha ocorrido em agosto.
Houve menos meios do que os que seriam necessários — a fase Charlie não foi prolongada.
Pergunto: foram retirados meios ou não foram? É uma verdade indiscutível: estavam menos 4222
operacionais no terreno. Porquê? Porque tinha terminado a fase Charlie. Havia menos 30 meios aéreos
disponíveis exatamente pela mesma razão. Ou seja, houve um conjunto de erros que não podiam ou não deviam
ter sido cometidos. Isto é um dado objetivo.
O que é extraordinário, Sr.as e Srs. Deputados, é que, perante esta descrição, em vez de assumirem a
responsabilidade, nos venham dizer que a culpa é da política da direita ou do que for. Ou seja, falhou a previsão,
falharam os meios, falhou a coordenação, falhou a resposta aos pedidos, falhou o ataque inicial, falhou tudo
aquilo que podia ter sido útil para combater este incêndio. Mas a culpa é da política da direita!
O Sr. João Dias (PCP): — Claro!
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — A direita, em bom tempo e em boa hora, apresentou uma moção de
censura e os senhores deviam ter acompanhado essa moção se tivessem um pingo de vergonha na cara!
Aplausos do CDS-PP.
Protestos da Deputada de Os Verdes Heloísa Apolónia.
Depois, Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo, Sr. Ministro, há uma questão que ficou por resolver e o
Sr. Ministro perdeu uma oportunidade de o fazer. Trata-se de saber, já depois de apresentado o Relatório, quem
diz a verdade. Isto porque temos, Sr. Ministro, duas versões absolutamente contraditórias: temos a versão de
que não houve pedido de reforço de meios — versão do ex-Secretário de Estado que, de resto, esteve a assistir
ao debate, não tendo participado nele — e temos a versão de que esse pedido não existiu — página 148 do
Relatório, se não estou em erro, sendo claríssimo o que lá está dito.
O Sr. Ministro perdeu a oportunidade de dizer, de uma vez por todas, quem diz a verdade no meio desta
história, precisamente porque temos duas versões. Até no âmbito, por assim dizer, do Partido Socialista, dos
seus responsáveis ou dos seus nomeados, temos duas versões: a versão que elogia o Relatório — ouvimo-la
hoje — e a versão do corredor, que diz que o Relatório é um repositório de mentiras.
Portanto, temos de nos entender. Qual é a versão verdadeira? É a da Sala ou a que é dita no corredor, contra
o Relatório?