I SÉRIE — NÚMERO 66
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Ora, acontece que, passado um ano, o Governo avançou nesta matéria, mas ainda não tem tudo. Portanto,
o que estamos hoje aqui a fazer — e bem, do meu ponto de vista, porque a estratégia de combate ao terrorismo
é uma estratégia permanente — é reiterar ao Governo a necessidade de acelerar esse trabalho, que é
permanente, como foi dito e bem, mas que não pode ser descurado em nenhuma circunstância.
Devo dizer que foi com enorme espanto que ouvi o argumento, agora da parte do Sr. Deputado António
Gameiro, de que existe um recurso da lei no Tribunal Constitucional. Sr. Deputado, a lei está em vigor.
O Sr. António Gameiro (PS): — Há seis ou sete situações de inconstitucionalidades!
O Sr. Luís Marques Guedes (PSD): — O facto de haver ou não recurso não altera rigorosamente nada!
Protestos do Deputado do PS António Gameiro.
Se vier a existir alguma declaração de inconstitucionalidade, cá estarão os órgãos necessários para
ultrapassar esse problema. Porém, é inaceitável, é imperdoável que ao fim de oito meses de vigência de uma
lei, que foi promulgada pelo Sr. Presidente da República com uma mensagem à Assembleia da República, onde
dizia que o fazia atendendo à enorme relevância para a defesa do Estado de direito, a regulamentação não
esteja feita. A lei prevê que essa regulamentação, que é necessária para a boa execução destes princípios, tem
de ser precedida de um parecer do Conselho de Fiscalização da Assembleia da República sobre os serviços de
informação e do Conselho Superior de Informações, e nada disto aconteceu. Estamos à beira do mês de abril e
nada disso aconteceu, é imperdoável!
Portanto, relativamente a esta matéria, acho que é preciso recomendar ao Governo, com muita veemência,
que acelere a regulamentação para que Portugal não seja o único país europeu a ter serviços de informações
sem acesso a essa ferramenta, fundamental, no combate ao terrorismo.
Aplausos do PSD.
Entretanto, reassumiu a presidência o Vice-Presidente Jorge Lacão.
O Sr. Presidente:— Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado António Filipe.
O Sr. António Filipe (PCP) — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Estes dois projetos de resolução,
apresentados pelo CDS, merecem-nos considerações e sentidos de voto diversos.
Portanto, vamos separar as coisas: primeiro, falo do projeto de resolução relativo aos metadados e, depois,
do projeto de resolução sobre as infraestruturas críticas.
Sabemos que o CDS sempre defendeu o acesso dos serviços de informações aos chamados «metadados»,
e tanto assim foi que contribuiu para a aprovação, na Legislatura passada, de um diploma que foi declarado
inconstitucional pelo Tribunal Constitucional — apenas um dos conselheiros votou contra, tendo o resultado sido
12 contra 1, o que foi, importa reconhecer, uma expressiva maioria obtida no Tribunal Constitucional
relativamente à inconstitucionalidade daquilo que aprovaram — e, nesta Legislatura, para a aprovação de uma
lei cuja constitucionalidade está posta em causa, como se sabe, por um recurso que foi apresentado no Tribunal
Constitucional e que está em apreciação.
Os argumentos que o Sr. Deputado Telmo Correia trouxe aqui, relativamente às tragédias ocorridas
recentemente com atentados terroristas na Europa, não são particularmente úteis para esta discussão, porque
os serviços de informação desses países têm acesso aos metadados, o que, aliás, demonstra que não é por aí
que situações destas, quando ocorrem, podem ser evitadas.
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — Então, o melhor é não fazer nada!
O Sr. António Filipe (PCP): — Portanto, esse argumento, digamos, vale o que vale.
O Sr. Telmo Correia (CDS-PP): — O melhor é não fazer nada!