I SÉRIE — NÚMERO 77
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O Sr. Paulo Sá (PCP): — Sr. Presidente da República, Sr. Presidente da Assembleia da República, Sr.
Primeiro-Ministro, Srs. Presidentes do Supremo Tribunal de Justiça e do Tribunal Constitucional, Capitães de
Abril, Sr.as e Srs. Convidados, Sr.as e Srs. Deputados:
Naquele dia de Abril que hoje comemoramos, o povo saiu à rua e, pleno de força e determinação, proclamou:
«O povo é quem mais ordena!» E, com esta afirmação, tão singela mas ao mesmo tempo tão profunda nas suas
implicações, o povo tomou nas mãos o seu destino e fez-se a Revolução.
Um pouco por todo o País, mas com especial simbolismo no cerco ao Quartel do Carmo, impressionantes
massas populares juntaram-se aos militares de Abril e, ombro com ombro, de cravo na mão, forjaram a aliança
Povo-MFA e partiram à conquista de uma nova sociedade. Chegava ao fim a longa noite fascista, cujo negrume,
ao longo de quase 50 anos, havia sido iluminado pela corajosa luta dos resistentes antifascistas, que não
olharam a sacrifícios, por vezes da sua própria vida, para devolverem a liberdade ao povo português.
Nos meses seguintes, com a feroz oposição daqueles que acham que o povo é apenas um penacho
decorativo no chapéu da democracia, as massas populares operaram decisivas e profundas transformações na
sociedade portuguesa. Atiraram a odiosa ditadura fascista para o caixote do lixo da História e construíram a
mais avançada, mais progressista e mais democrática organização social que alguma vez Portugal teve.
Liberdade de expressão, direito de reunião e manifestação, liberdade de associação e formação de partidos
políticos, liberdade sindical, direito ao trabalho, direito à greve, controlo pelo Estado dos setores estratégicos da
economia, participação dos trabalhadores na gestão das empresas, direito à contratação coletiva, reforma
agrária, direitos sociais e culturais, sistema de segurança social, serviço nacional de saúde geral e gratuito,
ensino básico universal, elevação do nível de vida das classes trabalhadoras e do povo em geral,
reconhecimento do direito dos povos das colónias à independência — estas são algumas das importantes
conquistas da Revolução de Abril.
Nenhuma destas conquistas foi oferecida ao povo português. Foram, todas elas, alcançadas pela luta dos
trabalhadores, das massas populares e do movimento sindical, em aliança com os militares do Movimento das
Forças Armadas, conquistas que, dois anos depois, haveriam de encontrar o seu lugar na Constituição da
República Portuguesa, a qual, apesar de desvirtuada em sucessivas revisões, ainda mantém o espírito
progressista e democrático da Revolução de Abril. Exercendo as conquistas de Abril antes que qualquer decisão
dos órgãos de poder formal as reconhecesse, o povo afirmou-se como protagonista na construção de uma nova
e mais justa sociedade.
Volvidos mais de 40 anos, ainda ouvimos certas pessoas e certas forças políticas referirem-se em tom
depreciativo, e nalguns casos mesmo com indizível horror, àqueles intensos anos de transformação
revolucionária da nossa sociedade. É a atitude de quem abomina a democracia ou a vê simplesmente como um
processo formal em que a intervenção das massas populares na vida política se deve limitar ao voto de quatro
em quatro anos.
Ao longo de quatro décadas, as conquistas da Revolução de Abril nos domínios dos direitos políticos,
económicos, sociais e culturais estiveram sob o fogo cerrado da política de direita, que, em estreita consonância
com os interesses do grande capital, procurou limitar o seu alcance ou mesmo liquidá-las. Particularmente
gravosa foi a ação do anterior Governo, PSD/CDS, que desferiu o mais brutal ataque de que há memória aos
direitos dos trabalhadores e do povo. Não é exagero dizer que, pela sua intensidade e alcance, essa ação se
traduziu num verdadeiro ajuste de contas com o 25 de Abril e as suas conquistas.
A corajosa e persistente luta dos trabalhadores e do povo português levou ao isolamento político e social
desse Governo, à rejeição da sua política de exploração e empobrecimento e, em outubro de 2015, à sua derrota
eleitoral.
Risos do PSD.
Também aqui se confirmou, mais uma vez, que vale a pena lutar. É com a luta que os trabalhadores e os
povos resistem e derrotam as ofensivas contra os seus direitos e é com a luta que abrem horizontes de
esperança.
Aplausos do PCP, de Os Verdes e de Deputados do PS.