26 DE ABRIL DE 2018
7
Nos últimos dois anos e meio, no quadro de uma nova correlação de forças na Assembleia da República,
com o contributo decisivo do PCP, foram adotadas medidas de defesa, reposição e conquista de direitos e
rendimentos, medidas que, dando resposta a problemas urgentes dos trabalhadores e do povo, estão, contudo,
aquém daquilo que seria necessário e possível. E, se não se vai mais longe na resolução dos problemas dos
trabalhadores, do povo e do País, isso deve-se às opções do PS e do seu Governo, que, em convergência com
o PSD e o CDS, mantêm o seu compromisso com os interesses do grande capital e a sua submissão às
imposições do euro e da União Europeia.
O que se impõe é a mobilização dos recursos orçamentais disponíveis não para a redução acelerada do
défice e da dívida, mas sim para dar resposta aos problemas das pessoas, investindo nos serviços públicos, no
Serviço Nacional de Saúde (SNS) e na escola pública, na proteção social, nos transportes públicos, na floresta
e no mundo rural, na cultura, na ciência e na investigação, na segurança e na justiça.
Portugal e os portugueses não estão condenados a uma perpétua submissão às orientações e imposições
do euro e da União Europeia e aos interesses do grande capital. Os avanços alcançados nos últimos dois anos
e meio não são o ponto de chegada, são o ponto de partida de novas lutas para conquistar novos avanços, são
o ponto de partida para a afirmação e a construção de uma política alternativa, patriótica e de esquerda.
Há 44 anos, o povo português saiu à rua e, superando todas as dificuldades e todos os obstáculos,
empreendeu a construção de uma sociedade mais livre, mais justa e mais fraterna. A melhor forma de hoje
comemorarmos a Revolução de Abril e a ousadia de um povo que soube transformar um sonho em realidade é
projetando os valores e as conquistas dessa Revolução no presente e no futuro de Portugal.
Viva o 25 de Abril!
Vozes do PCP e de Os Verdes: — Viva!
Aplausos do PCP, de Os Verdes e de Deputados do PS e do BE.
O Sr. Presidente da Assembleia da República: — Em nome do Grupo Parlamentar do CDS-PP, tem a
palavra a Sr.ª Deputada Ana Rita Bessa.
A Sr.ª Ana Rita Bessa (CDS-PP): — Sr. Presidente da República, Sr. Presidente da Assembleia da
República, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Presidentes do Supremo Tribunal de Justiça, do Tribunal Constitucional e
dos demais Tribunais Superiores, Altas Autoridades Civis, Militares e das Forças de Segurança, Sr. Núncio
Apostólico, Excelência Reverendíssima, Sr. Cardeal Patriarca de Lisboa, Eminência Reverendíssima, Sr.as e
Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Representantes do Corpo Diplomático, Ilustres Convidados, Sr.as e Srs.
Deputados:
Evocamos hoje o dia 25 de Abril de 1974, sobre o qual passaram 44 anos.
Perdoem-me a nota pessoal, mas tenho de o fazer neste momento. Também eu tenho 44 anos. Cresci
mesmo aqui, em frente ao Parlamento, em casa dos meus avós. Brinquei e corri pelos recortes da relva que
circundam São Bento. Subi e desci muitas vezes a escadaria branca que quase alcança a bandeira, umas vezes
curiosa — o que aconteceria dentro daquelas enormes portas? —, outras a pedir a mão e o olhar atento do meu
avô.
Acredito que, nesses passeios com o meu avô, a sua intenção era, deliberadamente, a de fazer-me apropriar
deste espaço. Homem de esquerda convicto, que sofreu com a família as agruras destinadas a quem era do
contra, ao trazer-me a brincar nos relvados estava a familiarizar-me com a democracia, estava a inscrever em
mim a sede pela liberdade recentemente conquistada. Tantos anos passados, encontro-me agora do lado de cá
da enorme porta, dentro e parte desta Casa, e acredito que foi essa sede de liberdade, então semeada, que me
guiou.
Sr. Presidente da República, Sr. Presidente da Assembleia da República: No dia 25 de Abril de 2018, integro
uma geração que só conhece o seu País em liberdade e que é por isso agradecida, mas uma geração que ainda
viveu os estertores dolorosos de uma violência revolucionária que quase extinguiu o Estado de direito que então
se pretendia edificar. Por isso é tão verdade, como disse Miguel Torga, que hoje é dia de exaltar «a liberdade
que devemos à generosidade de heróis que tivemos de combater logo no dia seguinte ao da generosidade».