I SÉRIE — NÚMERO 87
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O Sr. Pedro Mota Soares (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados e um cumprimento muito
especial ao Sr. Deputado relator do parecer sobre esta matéria.
Em nome da bancada do CDS, gostaria de dizer que quem, como nós, tem uma posição europeísta exigente
sabe que essa exigência passa também pelo escrutínio que temos de fazer a todas as instituições europeias e,
muito à cabeça, à própria Comissão Europeia. É exatamente por isso que temos de utilizar todos os
instrumentos, todos os mecanismos que temos, nomeadamente, do ponto de vista nacional, o instrumento que
é o de o Parlamento poder fazer o escrutínio sobre duas matérias que são fundamentais, em relação a saber se
se aplica o princípio da subsidiariedade e o princípio da proporcionalidade sempre que se toma uma medida ao
nível europeu.
Hoje, mais Europa não pode significar mais Bruxelas. Pelo contrário, aprofundarmos o processo de
construção europeia, aprofundarmos e irmos mais longe na defesa dos valores que constituíram e que
continuam a constituir a União Europeia, valores que são valores fundacionais da nossa democracia, tem de
significar, às vezes, travar Bruxelas. Hoje, mais Europa é menos Bruxelas.
Uma das razões que levou à crise, ao divórcio entre os cidadãos e a Europa é aquilo a que muitas vezes se
chama o over-regulation, o excesso de regulamentação. A Europa quer legislar sobre tudo e sobre todos, desde
o tamanho da fruta, à gastronomia regional, à utilização ou não das colheres de pau, aos fusos horários, às
redes de pesca, ao diâmetro dos guarda-chuvas, enfim, um conjunto de matérias sobre as quais não faz sentido
termos legislação do ponto de vista comunitário, porque os Estados-membros, os países, se sentirem essa
necessidade, podem legislar por si de uma forma mais do que suficiente.
O escrutínio que o Parlamento português faz às instituições é exatamente para saber se garantimos ou não
a aplicação do princípio da subsidiariedade, aquele princípio que nos diz que só devemos atribuir à União
Europeia aquilo que sozinhos, na esfera dos Estados-membros, não conseguimos fazer ou não fazemos de uma
forma tão eficaz.
É exatamente por isso que este projeto de resolução é tão importante, é para nos lembrar a responsabilidade
de o Parlamento português escrutinar matérias como o próximo quadro financeiro plurianual, isto é, o próximo
Orçamento comunitário, matérias que têm a ver com questões tão relevantes como o mercado único digital ou
como a união da energia, matérias que têm a ver com questões tão importantes, neste momento, para a nossa
vida enquanto sociedade, como a conclusão da União Económica e Monetária ou a conclusão da união bancária.
Quem é exigente no processo de construção do ponto de vista europeu, tem de ser exigente também dentro
de casa. É exatamente para isso que serve também o papel do Parlamento, do ponto de vista não só de poder
escrutinar, de poder criticar e de dizer o que está mal, mas também de poder apoiar e suportar as coisas que
estão bem, nomeadamente em termos da construção dos valores fundacionais da nossa democracia e da União
Europeia.
Aplausos do CDS-PP.
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Miguel Tiago.
O Sr. MiguelTiago (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados: Ao contrário do que o Sr. Deputado Duarte
Filipe Marques —, que aproveito para cumprimentar — aqui nos disse, de que Portugal é um dos países que
mais tem a ganhar com a União Europeia e com a sua integração, a realidade, neste caso, funciona de forma
incontornável. É que, ao longo dos últimos 20 anos, com exceção apenas dos últimos anos, Portugal esteve
sempre num percurso de divergência no crescimento económico, sempre num percurso de divergência com a
média da União Europeia, o que demonstra bem que, ao invés de nos aproximarmos, isto é, de que entraríamos
num percurso de crescimento e de igualdade para com os países e as potências europeias — como, na altura,
diziam PS, PSD e CDS —, a realidade demonstrou precisamente o contrário.
Ao mesmo tempo, durante esse período, Portugal viu ser desmantelado, por opção do PS, do PSD e do CDS,
e também por orientação da União Europeia, o seu aparelho produtivo em praticamente todas as dimensões.
Por força do mercado único e da moeda única, Portugal é hoje um País mais endividado e um País mais
dependente.