15 DE JUNHO DE 2018
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A Sr.ª Sandra Pereira (PSD): — Sr.ª Ministra, no último Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), na
categoria dos crimes contra a autodeterminação sexual, o crime de violação teve um aumento expressivo, de
mais de 21%, em 2017, atingindo o valor mais alto dos últimos 10 anos.
Tendo em conta que se encontra prevista neste mesmo documento, nas orientações estratégicas para o ano
de 2018, e passo a citar, a «Concretização do aprofundamento do quadro legal da criminalização da violência
de género e doméstica e da criminalidade sexual, em linha com os Convénios Internacionais a que Portugal se
encontra vinculado», gostaríamos de saber, Sr.ª Ministra, se, neste quadro, e face ao aumento dos crimes de
violação ocorridos no ano anterior, se encontra previsto algum programa específico de prevenção e combate a
este tipo de crime.
Por outro lado, Sr.ª Ministra, gostaria que concretizasse qual o alcance destas palavras bonitas —
«aprofundamento do quadro legal da criminalização da violência de género e doméstica e da criminalidade
sexual» — que estão inscritas no RASI como orientações do Governo. O que é que se quer dizer, em concreto,
com isto.
Sr.ª Ministra, rapidamente, porque já não tenho muito tempo, gostaria de lhe dizer que todos reconhecemos
que há uma desvalorização judicial dos crimes de violência doméstica e isso mesmo foi apontado num estudo
que analisou várias decisões judiciais. Há, inclusivamente, juízes que dizem que nunca julgaram crimes de
violência doméstica, que foram só uns murros e uns pontapés.
Ora, esta tolerância judicial, Sr.ª Ministra, mais não é do que uma tolerância social que existe com a violência
doméstica e que naturalmente nos convoca a todos — ao Governo, ao Parlamento — e que todos devemos
combater.
O próprio Ministério Público, Sr.ª Ministra, assume que não está preparado para lidar com a violência
doméstica. Os funcionários do Ministério Público, e o sindicato disse isto recentemente, não têm formação nessa
matéria, porque não lhes é dada, por parte do Ministério da Justiça, e não existem funcionários suficientes que
permitam um atendimento personalizado, quer por esses mesmos funcionários, quer pelos próprios magistrados.
Sr.ª Ministra, a minha pergunta, em concreto, é a seguinte: o anterior Governo tinha um plano robusto de
formação nessa área que nós reconhecemos que foi «desintensificado», pelo que lhe pergunto que medidas
concretas é que a Sr.ª Ministra pretende implementar no sistema judicial para erradicar e prevenir o crime de
violência doméstica e, sobretudo, combater este preconceito, que é um preconceito social e que também tem
reflexos na magistratura e nas decisões judiciais.
Aplausos do PSD.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Como é que têm coragem de «desintensificar» um plano?!
O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para responder, tem, novamente, a palavra a Sr.ª Ministra da Justiça.
A Sr.ª Ministra da Justiça: — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, relativamente ao sistema prisional e
aos meios humanos, o Governo tem trabalhado no sentido de internalizar, ou seja, fazer um movimento ao
contrário daquele que existia antes, que era o movimento de externalização.
É por isso que temos estado a contratar médicos e enfermeiros para termos o pessoal mínimo no interior dos
estabelecimentos, que permita assegurar essa ligação efetiva entre os reclusos e o pessoal de saúde.
Quanto às questões do Citius, gostava de dizer que, provavelmente, o Citius nunca esteve tão bem como
está hoje.
Quanto ao SITAF (Sistema de Informação dos Tribunais Administrativos e Fiscais), fizemos 50 intervenções
no SITAF, Sr. Deputado. E mais: estamos a estender o SITAF aos tribunais superiores na área administrativa e
tributária.
Quanto à questão que colocou, das comunicações, de atos através de carta, dir-lhe-ia que introduzimos o
sistema de printing and finishing nos tribunais administrativos e, portanto, se eventualmente em algum momento
isso aconteceu, deixará necessariamente de acontecer.
A alteração da organização judiciária ocorreu inicialmente, em fase experimental, em apenas três comarcas,
mas, quanto à reabertura, quero dizer-vos que, no período de um ano, se realizaram 1000 julgamentos e, nos