I SÉRIE — NÚMERO 96
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Protestos do PS e do BE.
E queria dizer-lhe uma coisa, olhos nos olhos, Sr. Primeiro-Ministro: eu não tenho duas caras, não digo uma
coisa a si, quando é Primeiro-Ministro, Presidente da Câmara Municipal de Lisboa ou Sr. Secretário-Geral do
Partido Socialista, e outra coisa a outras pessoas.
Protestos do PS.
Digo sempre a mesma coisa. Já o Sr. Primeiro-Ministro, quando era Presidente da Câmara Municipal de
Lisboa, sei muito bem o que dizia a mim, o que dizia na rua para ganhar votos e o que dizia aos investidores
privados que queria atrair para a cidade.
Aplausos do CDS-PP.
Protestos do PS.
O Sr. Presidente: — Para dar explicações, se assim o entender, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, em primeiro lugar, queria dizer à bancada do CDS-PP que eu
nada referi sobre a bancada do CDS-PP, pela qual, aliás, tenho a maior estima e consideração. Também não
disse nada à Sr.ª Deputada Assunção Cristas. Referi-me, sim, à ex-Ministra Assunção Cristas.
Aplausos do PS.
E a ex-Ministra Assunção Cristas, quer goste quer não goste, não foi só a Ministra dos agricultores, não foi
só a Ministra da lavoura, foi a Ministra que fez esta lei do arrendamento que criou uma crise social em Portugal.
E, mais, Sr.ª Deputada, criou-a conscientemente,…
O Sr. João Oliveira (PCP): — Sabia bem o que estava a fazer!
A Sr.ª Assunção Cristas (CDS-PP): — … porque a senhora foi avisada por toda a gente. Foi avisada por
mim, foi avisada pela Sr.ª Deputada Helena Roseta, foi avisada por todo o País que a pura liberalização
selvagem do mercado de arrendamento iria gerar uma calamidade social no nosso País — e só não gerou maior,
porque mudou o Governo e mudou a lei.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente: — Passamos ao Grupo Parlamentar do PCP.
Tem a palavra o Sr. Deputado Jerónimo de Sousa para formular perguntas.
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, em relação ao Quadro Financeiro
Plurianual e ao Plano Nacional de Investimentos — Portugal 2030, queria fazer duas notas e uma pergunta.
A primeira para sublinhar que aquilo que aqui nos trouxe não dissipa as nossas preocupações em relação à
opinião, já expressa, de que estamos perante mais um quadro financeiro para a divergência, agora pior ainda
com o previsto corte nos fundos de coesão e na PAC.
A segunda nota é para afirmar que o Plano Nacional de Investimentos está condenado a ficar manifestamente
aquém das necessidades de investimento do País, determinado que está quase exclusivamente por fundos
comunitários porque os constrangimentos impostos pela União Europeia assim o exigem.
Neste quadro, vai o Governo aceitar os cortes que estão ensejados, em prejuízo dos países como Portugal?
Ou vai justificá-los com a promessa, que já se esboça, de um reforço futuro da coesão e do investimento? Esse
futuro que está sempre adiado, por exemplo, para o interior, para a agricultura, para acudir aos que foram vítimas
dos incêndios e às causas fundas da tragédia.