I SÉRIE — NÚMERO 101
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A democracia alterou esta situação. Os indicadores mostram que saímos da cauda da Europa para
ultrapassarmos, em pouco mais de 20 anos, a média europeia e a da OCDE (Organização para a Cooperação
e Desenvolvimento Económico).
O Sr. Porfírio Silva (PS): — Muito bem!
O Sr. Alexandre Quintanilha (PS): — Estes resultados devem-se a um aumento enorme do investimento
nos diferentes domínios do conhecimento e a uma aposta clara nas pessoas e nas instituições.
Chegámos a investir perto de 1,6% do PIB (produto interno bruto) em investigação e desenvolvimento e a
oferecer, anualmente, quase 2000 bolsas de doutoramento. O Ciência Viva «seduziu» milhares de cidadãos de
todas as idades.
Apesar de terem sido muitos os que ajudaram a construir este edifício, o nome de Mariano Gago e a nossa
entrada na União Europeia ficarão para sempre associados a esta metamorfose.
Aplausos do PS.
A crise e os anos da troica afastaram-nos desse percurso. Fizeram baixar aqueles valores para perto de
1,2% do PIB e menos de 700 bolsas de doutoramento anuais. Para termos uma ideia, cada décima de redução
no financiamento equivale a menos 600 projetos financiados, juntamente com menos 1200 contratos.
Provocaram uma fuga de cérebros sem precedentes na história recente do nosso País e muitas instituições de
investigação viveram momentos de grande insegurança pelos níveis de precariedade que foram criados.
Durante essa meia dúzia de anos, a confiança dos cidadãos num futuro dedicado à exploração do
conhecimento foi fortemente abalada.
Este Governo e o seu Ministério, Sr. Ministro, vieram prometer uma nova fase de reaproximação à Europa e
ao mundo e uma renovada aposta nesse conhecimento. Mas a «fome» era muita! A urgência era, e é, enorme!
Olhemos para o cenário recente. Só em 2017, já foram avaliadas perto de 5000 candidaturas a projetos, e
os resultados comunicados aos investigadores, o que representou um esforço hercúleo, da parte da Fundação
para a Ciência e a Tecnologia. E temos milhares de investigadores a candidatarem-se aos diferentes concursos
já abertos para contratos de trabalho, com a expectativa de deixarem, finalmente, de ser bolseiros.
Aplausos do PS.
A percentagem do PIB investido subiu ligeiramente em 2016, prevendo-se que possa chegar a 1,3% em
2017.
O número de bolsas de doutoramento voltou a subir, para cerca de 1500. Os vários concursos abertos
oferecem mais de 4000 contratos para investigadores.
O financiamento de 34% dos projetos acima referidos, no valor de quase 406 milhões de euros, é inédito e
atinge o seu valor mais alto de sempre.
Seis laboratórios colaborativos, que apostam na interdisciplinaridade e na translação do conhecimento, foram
aprovados e outros 23 estão em avaliação.
O ensino politécnico foi fortemente valorizado.
Aplausos do PS.
As colaborações internacionais cresceram e incluem agora muito mais parceiros.
Mas, como é do conhecimento público, os investigadores sentem-se frustrados com a lentidão da mudança
e a complexidade burocrática não só das candidaturas como do seu trabalho diário. É natural! Quando a
esperança aumenta, as expectativas aumentam e todos querem correr mais depressa. No entanto, o caminho
ainda é longo para atingirmos os prometidos 3% do PIB em 2030.
Andar mais depressa, sem prejudicar a qualidade e a robustez das avaliações e do acompanhamento, é
perigoso e pode fragilizar o processo, como já aconteceu no passado.